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Frota de veículos de SP cresce 4 vezes mais que a população
Estado ganhou 3,2 milhões de veículos, aumento de 26%, enquanto
população passou de 38,1 milhões para 40,4 milhões (6,2%)
Para especialistas, os
sistemas viários não têm
conseguido absorver o
aumento, com reflexo no
trânsito e em acidentes
JORGE SOUFEN JR
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A frota de veículos no Estado
de São Paulo cresceu num ritmo quatro vezes superior ao da
população entre 2002 e 2006.
Levantamento da Fundação
Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) mostra que, nesse intervalo, São
Paulo ganhou mais 3,2 milhões
de veículos, um aumento de
26%, e atingiu, no total, a marca
de 15 milhões de carros, motocicletas, caminhões e ônibus.
Já a quantidade de habitantes no Estado cresceu somente
6,2 % no mesmo período -de
38,1 milhões para 40,4 milhões.
O crescimento da frota paulista foi ainda maior com as motocicletas, que saltaram 67%,
de 1,4 milhão para 2,4 milhões.
Especialistas apontam diversas explicações para a alta da
taxa de motorização no Estado,
incluindo a situação econômica
favorável dos últimos anos e a
demanda reprimida existente
principalmente no interior e
nas classes de renda mais baixa.
Não é à toa que a indústria
automobilística já espera bater
recorde de vendas no país neste
ano. A maior taxa, de 1,94 milhão de unidades, é de 1997.
Mas, no ano passado, ela chegou perto -com 1,930 milhão.
A expansão das motocicletas
é outro fator destacado por técnicos, tanto em substituição ao
transporte coletivo (cujas tarifas têm subido acima da inflação e cuja qualidade é questionada) como por conta do uso
desse tipo de veículo em atividades comerciais, dos motoboys paulistanos aos mototaxistas do interior do Estado.
Os dados da Fundação Seade
também apontam que, em alguns municípios paulistas, a taxa de motorização se aproxima
da média de países desenvolvidos.
Em 2002, só duas cidades tinham menos de 2 habitantes
por veículo. Hoje, 16 municípios estão nessa situação.
O líder no ranking é São Caetano do Sul, no ABC paulista,
seguido por Águas de São Pedro
-com 1,41 e 1,50 habitante, por
veículo, respectivamente. Os
dois municípios são conhecidos por concentrarem população pequena e de alta renda em
relação à média. Nos EUA, essa
taxa de motorização é de 1,30.
No Estado inteiro, em 2002,
havia 3,17 habitantes por veículo, média que caiu para 2,67 em
2006. Considerando apenas a
capital paulista, também houve
queda da taxa (que, na prática,
significa mais autos por morador e, conseqüentemente,
maior congestionamento). O
índice de habitantes por carro
passou de 2,50 para 2,14.
A base do levantamento da
Fundação Seade considera os
dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito),
que são diferentes dos do Detran (Departamento Nacional
de Trânsito) por contemplar
somente os que possuem registros nacionais, excluindo os antigos que não atualizaram as
placas amarelas de duas letras.
As estatísticas do Detran costumam mostrar motorização
ainda superior -no Estado, há
16,3 milhões registrados.
Reféns
Os números preocupam especialistas em transporte. Para
eles, os sistemas viários municipais não têm conseguido absorver os aumentos consecutivos da frota. Resultado: mais
riscos de engarrafamentos,
mais acidentes e mais mortes.
O urbanista Marcos Pimentel Bicalho, superintendente da
ANTP (Associação Nacional
dos Transportes Públicos), diz
que as cidades estão se tornando reféns de veículos individuais, como autos e motos.
"Seguindo exemplo de países
que conseguiram acordar para
isso antes do Brasil, as cidades
podem e devem ter espaço para
os automóveis, mas a prioridade deveria ser os transportes
coletivos e os pedestres, um ser
geralmente esquecido."
José Bernardes Felex, professor titular de engenharia da
USP de São Carlos, lamenta
que cada vez mais a população
recorra ao transporte individual. "Não tem havido qualquer evolução na qualidade dos
transportes públicos. Pior, a
confiança nesses serviços ainda
está diminuindo", disse.
O aumento da procura por
motos, segundo ele, mostra essa tendência. "Por um lado, é
uma condução barata e rápida.
Por outro, vem sendo utilizada
de forma nem sempre segura",
diz ele, em referência às mortes
no trânsito, que são mais freqüentes entre motociclistas.
O presidente da CET-SP, Roberto Scaringella, disse que a
elevação da frota não se deve
apenas a problemas viários. "É
uma tradução da realidade econômica e da realidade do desenvolvimento urbano", disse.
Ou seja, está mais fácil para a
população comprar veículos e a
expansão física das cidades e a
verticalização (mais prédios)
demandam maior necessidade
de transporte.
Segundo Bicalho, a solução
para evitar um caos viário é a
prioridade ao transporte público e as políticas de repressão ao
transporte individual, como rodízios e pedágios urbanos.
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