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FHC defende em palestra diálogo sobre uso de drogas
No colégio Santa Cruz, ex-presidente volta a apoiar a descriminalização de entorpecentes
Discurso é que o tráfico
de drogas ilícitas precisa
ser reprimido, mas que o usuário deve sair do foco
da polícia e da Justiça
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Em palestra anteontem no
colégio Santa Cruz, em São
Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a
defender a descriminalização
do uso de drogas. Falando a um
público composto principalmente por pais de alunos mas
também por estudantes, ele
traçou um panorama global do
combate às drogas ilícitas e
concluiu ser necessária uma
mudança de estratégia.
Segundo ele, a abordagem
puramente repressiva com vistas à erradicação do tráfico fracassou e precisa ser substituída
por outra, mais focada em
ações educativas com a finalidade de reduzir o consumo.
Para FHC, não há receitas
prontas. Cada país precisa debater abertamente o problema
e achar seu caminho. Abordagens que funcionaram bem em
um lugar podem não servir a
outro, onde características culturais da população e a natureza do tráfico sejam diferentes.
FHC mencionou a despenalização adotada por Portugal como um caso de sucesso, que
permitiu a redução do número
de usuários de heroína, mas observou que ela não pode simplesmente ser transposta para
a Colômbia ou o México, onde o
problema não é apenas o usuário mas também a enorme violência associada aos cartéis de
drogas. Nessas nações o narcotráfico penetrou nas estruturas
de Estado e já se converte numa ameaça à democracia.
O ex-presidente diz que é
preciso seguir reprimindo o
tráfico, mas tirar o usuário da
esfera da polícia e da Justiça.
Com isso, sistemas de saúde ganham maior amplitude de ação,
colhendo melhores resultados.
Para ele, o debate deve ser tão
honesto quanto possível. Não se
deve esconder nada do jovem,
nem mesmo que usar droga dá
prazer e por isso vicia. A tônica
deve estar nas consequências:
dá prazer, mas faz mal.
FHC vem nessa toada pelo
menos desde 2008, quando, ao
lado dos ex-presidentes César
Gaviria (Colômbia) e Ernesto
Zedillo (México), além de intelectuais e acadêmicos, criou a
Comissão Latino-Americana
sobre Drogas e Democracia,
com o objetivo de advogar por
mudanças na estratégia de
combate a entorpecentes.
Debate
O movimento não passou
despercebido. Em seu último
relatório anual, divulgado no
mês passado, o arquiconservador Unodc (escritório da ONU
contra drogas e crimes) lamenta que ex-altas autoridades latino-americanas se dediquem a
defender a descriminalização.
FHC explica a mudança. Para
ele, se há um assunto do qual
políticos querem passar longe é
a descriminalização das drogas.
"Mas eu não preciso fugir de
mais nada." Perguntando-se
retoricamente se essas mudanças um dia virão, disparou: "É
utópico? Talvez. Mas sem utopia ninguém muda o mundo".
Quando estava na Presidência,
FHC costumava falar em "utopia do possível". Definitivamente, a condição de ex-presidente fez bem ao sociólogo.
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