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INVESTIMENTO
Opção por investir apenas na construção de usinas cria problema estrutural na rede de distribuição
Falta de verba deixa sistema
elétrico vulnerável
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
A transmissão
de energia elétrica no Brasil
está enfrentando um problema
estrutural, provocado pela falta de investimentos e pela histórica preferência
estatal por megalomaníacos projetos de geração de energia.
A despeito dos problemas que
podem ser provocados por fenômenos naturais -como o raio que
atingiu a subestação de Bauru (SP)
na última quinta-feira e gerou um
blecaute em dez Estados e no Distrito Federal- , a transmissão de
energia no Brasil causa preocupação nas autoridades públicas e privadas ligadas ao setor.
"Vivemos um equilíbrio instável", disse à Folha o ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia), na noite de sexta-feira.
"O sistema seria mais confiável
se fossem feitos mais investimentos em transmissão", reconhece o
diretor-geral da entidade privada
ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Mário Santos, responsável pela gestão do setor elétrico no Brasil.
Os números de investimento reforçam a preocupação do governo
e do ONS. A Eletrobrás, holding
estatal do setor elétrico, deveria ter
investido R$ 3,6 bilhões no ano
passado (em transmissão, geração
e distribuição).
Mas a política de contenção de
gastos determinada pela equipe
econômica permitiu que a estatal
investisse R$ 2,8 bilhões em 1998
(uma redução de 22% em relação à
previsão inicial).
Até 2001, o Ministério das Minas
e Energia estima que serão necessários R$ 30 bilhões em investimentos para garantir uma maior
tranquilidade no setor elétrico.
O ministro Rodolpho Tourinho
admite que a União não tem essa
capacidade de investimento. "Não
temos esse dinheiro", afirma o ministro. De acordo com os planos da
Eletrobrás, os investimentos específicos na área de transmissão estão estimados em R$ 6,1 bilhões
-ou um quinto da situação ideal
imaginada pelo Ministério das Minas e Energia.
Megalomania
Mário Santos, do ONS, lembra
que o governo sempre preferiu investir em chamativos projetos de
geração de energia, o que fez o Brasil ter hoje as usinas hidrelétricas
de Itaipu (a maior capacidade de
produção do mundo) e Serra da
Mesa (cujo lago possui o maior volume de água de todo o mundo).
"A transmissão nunca foi priorizada porque o governo entendia
que essa atividade não era rentável, mas uma decorrência das unidades de geração", avalia Santos,
que antes de dirigir o ONS era vice-presidente da Eletrobrás.
Para ele, esse entendimento do
governo irá mudar com a privatização da estatal, que está sendo
desmembrada em unidades geradoras e transmissoras -apenas as
geradoras serão vendidas em um
primeiro momento.
"Com a cisão da Eletrobrás, o governo está vendo que a transmissão é uma atividade rentável como
as demais, pois as novas empresas
que estão sendo criadas demonstram que é possível obter uma boa
receita com a transmissão de energia", diz o diretor do ONS.
A inevitável carência de recursos
por parte da União está reforçando
a idéia de privatizar a malha de
transmissão, o que não está previsto no modelo de desestatização do
setor elétrico inicialmente desenhado pelo governo.
O ministro Rodolpho Tourinho é
um entusiasta dessa idéia. "O sistema de transmissão deve ser privatizado, pois o governo não tem dinheiro para investir no serviço e
não vai ter condições de bancar as
expansões necessárias", afirmou.
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