São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

RETRATO DO BRASIL

Na década de 80, segundo o IBGE, trânsito matava mais; durante os anos 90, homicídio lidera ranking

Em 20 anos, 600 mil foram assassinados

ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em 20 anos (de 1980 a 2000), 598.367 brasileiros foram assassinados. No período, a taxa de mortalidade por homicídio do país cresceu 130%, passando de 11,7 mortos por 100 mil habitantes para 27 por 100 mil. Os dados constam da "Síntese de Indicadores Sociais" do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística), divulgada ontem no Rio.
A população do país passou de 119 milhões, em 1980, para 170 milhões, em 2000 (43% a mais).
A taxa de homicídios, calculada com base em dados do DataSus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), mostra que Pernambuco apresentava em 2000 a maior taxa de mortos por homicídio, com 54 por 100 mil habitantes. Era seguido por Rio (51), Espírito Santo (46) e São Paulo (42).
Dos quase 600 mil brasileiros assassinados, 62% o foram na década de 90. O número total de mortes violentas (incluem suicídios e acidentes de trânsito) nesses 20 anos foi de 2.069.866 brasileiros, sendo que os homens representaram 82,2% desse total.
O aumento dos homicídios, principalmente na década de 90, é o principal fator que explica o crescimento do número de mortes violentas no país. Na década de 80, o brasileiro morria mais de acidente de trânsito do que de homicídio, padrão que se inverteu na década de 90.
O IBGE focalizou o estudo sobre as causas dos homicídios no grupo populacional mais afetado por essas mortes: homens de 15 a 24 anos. Os dados mostram que as armas de fogo tiveram um papel preponderante no aumento dessa estatística na década de 90.
Em 1991, pouco mais da metade (56%) dos homicídios entre homens de 15 a 24 anos eram causados por armas de fogo. Em 2000, a proporção já era de três em cada quatro (75%) assassinatos.
De 1991 para 2000, o número de homens de 15 a 24 anos mortos por armas de fogo cresceu 134%, passando de 5.220 para 12.233. No período, a taxa de mortalidade por armas de fogo na população masculina nessa faixa etária aumentou de 36,8 mortes por grupo de 100 mil habitantes para 71,7 mortes por 100 mil.
O Rio foi o Estado que apresentou maior taxa em 1991 e em 2000, com um aumento de 124,5 para 181,6. Pernambuco (179,5) e Espírito Santo (121,7) aparecem logo abaixo do Rio. São Paulo, que em 1991 ocupava a nona colocação, passou para a quarta em 2000. A taxa subiu de 43,6 para 114,6.
Como os homicídios e outras mortes mais violentas afetam mais os jovens, o impacto dessa mortalidade é significativo na redução da expectativa de vida nos principais centros urbanos.
No Estado do Rio, as mortes por causas violentas reduzem em 4,1 anos a expectativa de vida dos homens, segundo um cálculo feito pelo IBGE a partir de dados de 1998. Em São Paulo, os homens estão vivendo três anos a menos. Em Pernambuco, 3,5 anos.
No Brasil, as mulheres vivem sete anos a mais. No Rio, a distância é de 12 anos. Nos países desenvolvidos, a diferença é de 3 a 4 anos, diz Celso Simões, da Coordenação de Indicadores Sociais.


Próximo Texto: Crimes com arma são menores nos Estados Unidos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.