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Ministra quer retomar debate sobre aborto
Nilcéa Freire (Política para as Mulheres) reforça posição de ministro da Saúde, mas não defende plebiscito por ora
Para ela, legislação é anacrônica e forças conservadores impedem que questão seja debatida em todo o país
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Patrocinadora de projeto de
lei que liberava o aborto na rede
pública até o terceiro mês de
gravidez, engavetado há mais
de um ano no Congresso, a ministra Nilcéa Freire (Secretaria
Especial de Política para as
Mulheres) faz dobradinha com
o colega da Saúde, José Gomes
Temporão, na defesa da retomada do debate.
Ela insiste que a legislação
brasileira é anacrônica e precisa ser revista. Médica por formação, Nilcéa, 54, diz que o viés
moral, ditado por "forças conservadoras", tem impedido o
debate.
Já o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse ontem, a líderes do Congresso, que o governo não vai ter posição no debate sobre a descriminalização
do aborto. No caso de um projeto ser colocado em votação, os
parlamentares da base aliada
serão liberados para votar.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida pela ministra à Folha.
FOLHA - A última iniciativa de debate que partiu do governo, em
2005, foi esvaziada por quê?
NILCÉA FREIRE - Quando o relatório foi entregue na Comissão de
Seguridade Social da Câmara,
foram convocadas duas audiências públicas. Elas foram
muito pesadas, e a comissão
acabou votando a retirada de
pauta do projeto.
FOLHA - A sra. vê alguma chance de
retomar o debate nos termos daquele projeto?
NILCÉA - O projeto previa que,
até a 12ª semana de gestação, o
aborto era uma escolha da mulher. A partir daí, teriam de ser
levadas em consideração algumas condições já previstas por
lei: risco de morte da mãe e estupro. A gente ampliava para os
casos de má-formação do feto
que inviabilizam a vida fora do
útero. Eu acho que uma vírgula
a mais do ponto de vista de liberalização já seria polêmica.
FOLHA - A sra. defende que se faça
um plebiscito?
NILCÉA - Se no decorrer do debate, a sociedade entender que
deve haver alguma forma de
participação popular, eu não
descarto. Mas não no começo.
Até porque são questões diferentes: se você perguntar para
as pessoas se são contra ou a favor do aborto, é uma questão;
se perguntar se a pessoa é contra ou a favor a que as mulheres
possam ser presas de um a três
anos porque realizaram um
aborto, é uma outra questão.
FOLHA - O viés moral acabou pesando mais?
NILCÉA - Ele é muito forte. A
força dos movimentos conservadores é muito grande, e não é
só a igreja. Existem movimentos conservadores no país que
têm atuado fortemente no sentido de impedir a discussão. Veja: quando a atual legislação foi
aprovada, nos anos 40, não havia exames de ultra-sonografia,
que permitem avaliar a vida intra-uterina. Há um anacronismo na legislação.
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