São Paulo, quarta, 14 de maio de 1997.



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OPINIÃO
Rodízio inconsequente

ROMEU NATAL PANZAN
O governo de São Paulo decidiu incluir os caminhões no rodízio de veículos. Manter os caminhões fora poderia causar revolta na população e ameaçar o sucesso do principal projeto do governo para combater a poluição do ar.
Mas, assim como o rodízio é só um paliativo, a extensão da medida aos caminhões é uma falsa atitude de justiça na sociedade democrática.
Não que o Setcesp relute em se submeter às normas que recaem sobre os demais cidadãos. Mas há pelo menos dois fatores que diferenciam os caminhões dos automóveis no Brasil.
O primeiro deles é que o abastecimento urbano não pode prescindir do caminhão, responsável pela entrega de 100% do que se consome em São Paulo.
A segunda diferença está na tecnologia de controle de poluição. A Cetesb dispõe de recursos adequados e laboratórios para medir a descarga dos poluentes dos veículos a álcool e gasolina, e têm, ainda, parâmetros definidos para regulagem desses tipos de motor.
Mas não há na Cetesb um único laboratório para testar os veículos movidos a óleo diesel, nem parâmetros para orientar mecânicos especializados em caminhões. Isso apesar de o Estado ter arrecadado, em 1996, mais de R$ 20 milhões com multas a caminhões considerados poluentes.
Além disso, veículos leves respondem por 66% do monóxido de carbono emitido, contra 28% dos caminhões.
O que os transportadores de carga querem são medidas efetivas para o controle da poluição de veículos. Em 96, ao assinarmos com a Cetesb um protocolo de autogestão na regulagem de motores, ficou decidido que a agência governamental forneceria às empresas a orientação técnica. Ela reuniria ainda responsáveis pelo desempenho dos motores de caminhões -montadoras e setores de autopeças e combustíveis- para avaliar responsabilidades. A Cetesb não cumpriu esses compromissos.
É injusto impedir as transportadoras de cumprir os contratos com seus clientes, e os autônomos de trabalhar. Mas a verdadeira injustiçada será a população. A fachada democrática do rodízio é um engodo. Não adianta tirar de circulação 20% dos caminhões a cada dia, por quatro meses, e permitir que veículos desregulados circulem no resto da semana.


A fachada democrática do rodízio de veículos é um engodo

O Setcesp defende a inspeção de todo tipo de veículo e a retirada de circulação dos que não obedeçam normas de segurança e manutenção. Pede orientação técnica na regulagem de motores e o uso de equipamentos modernos para medir a emissão de poluentes. E propõe, finalmente, atividades de carga e descarga em períodos de menor movimento, como o noturno.


Romeu Natal Panzan, 54, é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp).



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