São Paulo, quarta, 14 de maio de 1997.



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ANÁLISE
O júri sem o magnetismo do ator da TV

LUÍS FRANCISCO CARVALHO Fº
da Equipe de Articulistas

A expectativa geral em torno do julgamento de Paula Thomaz parece ser menor. Há menos histeria no ar, menos notícia nos jornais. É como se a falta de novidades e a perspectiva da repetição de informações já publicadas gerasse uma certa perplexidade entre editores e repórteres.
Em princípio, a condenação de Paula surge no horizonte como uma consequência natural da condenação de Guilherme de Paula, em janeiro. Afinal, segundo os acusadores, marido e mulher agiram juntos para satisfazer caprichos criados a partir de uma relação obsessiva. A unidade de propósitos, aos olhos da acusação, é tão cristalina que não importa muito saber se um ou outro, ou os dois, ao mesmo tempo, desferiram os golpes fatais.
Admite-se, apenas, uma pena inferior aos 19 anos de reclusão recebidos por Guilherme -Paula, na época do crime, tinha menos de 21 anos, e essa circunstância é, por lei, atenuante.
Pelo menos em tese, não é porque Guilherme de Pádua foi condenado que sua ex-mulher deve ser condenada automaticamente. Lembre-se de que Guilherme, apesar de toda a pressão, colheu dois votos favoráveis.
O corpo de jurados não é o mesmo e não está formalmente vinculado ao primeiro julgamento. É composto por pessoas que poderiam, pelo menos na teoria, reagir de outra maneira ao crime, às versões, aos réus.
A rigor, Paula Thomaz é a personagem diferente de toda essa tragédia. Sem o magnetismo dos astros da televisão, ela aparece como um ser humano comum, igual aos julgadores. Independentemente de culpa, essa é a sua chance. Ela não é atriz, não faz parte do mundo das novelas. Ela gerou uma criança no cárcere. Ela veste chinelos de dedo e mantém os cabelos limpos, longos e fora da moda.
Não é à toa que, para surpresa de todos, tenha sido arrolada uma testemunha de defesa que nada saberia dizer sobre o acontecimento, mas que pode falar sinceramente alguma coisa sobre seu cotidiano comum.
É impossível avaliar de antemão o impacto dessa diferença no espírito dos sete jurados. Foram tantos meses de comoção popular e de consolidação da versão acusatória na mídia que todo o esforço da defesa pode escorrer como água e nem ser notado.
Mesmo que fisicamente ausente do recinto do Tribunal do Júri, Guilherme de Pádua permanece no centro da controvérsia. A acusação dirá que a condenação deve se estender a Paula e que não faria sentido beneficiar quem deu causa a tudo. A defesa sustentará que a Justiça já se realizou durante o julgamento de janeiro e que não há prova da participação efetiva de Paula.



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