São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP não se dobrará ao crime, afirma Lembo

Governador diz que atentados foram reação à atitude de "firmeza" do Executivo e afirma que não negociará com a organização

SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), afirmou ontem que a ação do PCC (Primeiro Comando da Capital) era "previsível" e foi uma conseqüência esperada da transferência de líderes da facção criminosa para a cidade de Presidente Venceslau. "Tomamos atitudes muito fortes e sabíamos que teríamos situações difíceis."
Lembo caracterizou os ataques e rebeliões como reação a uma atitude de "firmeza" do Executivo estadual. "Isolamos o pior da má vida e, por isso, estamos sofrendo esta represália." E nega qualquer possibilidade de negociação com líderes do PCC. "A má vida tem de ser tratada como má vida. Nós honrados, que trabalhamos, que temos respeito à vida do outro, aos direitos humanos, não podemos negociar. Temos de ser firmes", disse.
Em entrevista coletiva, junto dos secretários de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, e do comandante da Polícia Militar, Elizeu Eclair, Lembo admitiu saber das conseqüências da transferência dos presos.
De acordo com o comandante da PM, os resultados podiam, inclusive, ter sido mais dramáticos. "Tínhamos informações de que podia haver rebeliões. O número de mortes foi bem menor do que podia ter sido", disse Eclair.
Os discursos do governo do Estado e dos secretários, que, no passado, procuravam abrandar a importância das facções criminosas também se modificaram. "Eu mesmo dei entrevistas dizendo que estava preocupado com o crime organizado e com o ingresso de determinadas figuras em determinados setores dos nossos presídios. Veja que não estava errado", disse Lembo.
Para combater o crime, Lembo enfatizou a união dos secretários e das polícias. "A equipe está muito integrada. Não estamos nem com bravata nem com timidez. São Paulo não se dobrará ao crime."
Perfilados ao lado do governador, Abreu Filho e Furukawa procuraram atribuir a culpa da ação do PCC ao governo federal e cobraram mudanças nas leis que versam sobre o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). "O presidente Lula é o único que pode modificar a Constituinte. Só nos cabe cumprir a lei e protestar. Precisa haver um debate sério no Congresso. E não ficar apagando incêndio aqui e acolá", disse. "A legislação tem de mudar. É difícil vencer a guerra sem instrumentos", justificou.
Furukawa também criticou o governo federal. "Desde 2003, é o Judiciário que decide o RDD. Houve um retrocesso, a resolução de São Paulo [em que o Estado decidia pela aplicação do regime] funcionava melhor."
Pela manhã, em evento que marcava o marcava o início de obras na marginal do Rio Pinheiros, Lembo homenageou policiais e civis com um minuto de silêncio e fez questão de ir à igreja da Cruz Torta, no bairro de Pinheiros (zona oeste da capital), rezar pelos "homens que caíram" e mostrar que se sentia seguro na cidade.


Texto Anterior: Maior ataque do PCC faz 32 mortos em SP
Próximo Texto: Guerra urbana: Rebeliões em 24 prisões fazem 174 reféns
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.