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ALTA FREQÜÊNCIA
Moradores da região da avenida reclamam de interferência em aparelhos eletrônicos; hospitais blindaram salas
Antenas fazem teclado "falar" na Paulista
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira vez foi um susto. O
teclado musical que a advogada
Célia Marcondes deu aos filhos
passou a transmitir a programação das rádios da região da avenida Paulista. "No início assustei,
pensei que havia alguém na sala."
Não demorou para a advogada
descobrir: a interferência das antenas no entorno da Paulista, um
dos símbolos de São Paulo, era a
resposta para o teclado musical
com som de rádio. O fenômeno
virou até tema de piada numa das
reuniões da associação de moradores do bairro, da qual Célia é
presidente. "Todo mundo começou a falar de interferência em
aparelhos eletrônicos, fax..."
Motivo de gozação para os moradores, a interferência causada
pelas antenas preocupa especialistas, fez hospitais se equiparem,
despertou atenção da prefeitura e
mereceu críticas até mesmo da
entidade representante de emissoras de rádio e TV do Estado.
Em comum, o consenso de que
é necessário controle da quantidade de antenas instaladas em
São Paulo, sobretudo na Paulista.
Há 42 estações de TV e de rádio
FM na cidade, 29 delas na região,
segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Procurados pela reportagem,
nem o Ministério das Comunicações nem a Anatel nem a prefeitura sabem o ritmo de evolução na
implantação de antenas. Certo
mesmo é que mais uma entra em
operação ainda neste ano, da Globo -uma torre de 115 m que
abrigará o canal 19 (cabo) e o
transmissor reserva do canal 5,
ambos hoje no pico do Jaraguá.
"A densidade da potência [na
Paulista] está aumentando", afirma o engenheiro elétrico Mário
Leite Pereira Filho, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
O instituto finaliza estudo encomendado pela prefeitura sobre a
radiação não-ionizante (a irradiada pelas antenas). Pereira Filho
antecipou que as medições não
excederam os limites da Anatel.
Quem pediu o levantamento ao
IPT foi a Sempla (Secretaria Municipal do Planejamento), que
prepara uma regra para disciplinar a instalação de antenas na capital paulista. A fiscalização atualmente é feita pela Anatel.
Questionada sobre a regularidade das antenas instaladas em São
Paulo, a assessoria de imprensa
da Sempla afirmou que fornece
dados só sobre casos específicos.
Já de acordo com a agência regulatória, não existe comprovação
de que a exposição à radiação
provoque efeitos à saúde.
Se é capaz de prejudicar a saúde,
ele não sabe, mas Manoel Alves
Fernando, 52, também morador
das proximidades da Paulista,
não consegue falar ao telefone
sem ouvir uma voz estranha. "É
tirar o telefone do gancho e começar a escutar interferência. Com
orelhão, é a mesma coisa", disse.
Hospitais blindados
No setor privado, os hospitais
da região da Paulista reagem ao
crescimento das antenas com
blindagens. Santa Catarina e Nove de Julho, dois dos três consultados, instalaram "gaiolas de Faraday", uma tela que bloqueia a
radiação e evita a interferência da
poluição eletromagnética aos
equipamentos. O Sírio-Libanês
não respondeu à Folha.
No Santa Catarina, que fica na
avenida Paulista, o processo começou na década de 90. O centro
cirúrgico, o CTI (Centro de Terapia Intensiva) e as salas destinadas à eletroencefalografia já têm a
blindagem. No final de 2005, foi a
vez do setor de cardiologia. "Um
equipamento muito sensível pode
fazer uma leitura equivocada. Para evitar imprecisões, protegemos
o recinto de contaminações", disse Antonio Barroqueiro, gerente
de infra-estrutura do hospital.
Perto dali, cercada por radiação
e antenas, a advogada Célia Marcondes, aquela cujo teclado musica reproduz o som de rádios, disse
torcer por mais rigidez no controle de implantação das antenas.
Obcecada por ver ao redor tantas estações transmissoras, ela
pinta, por hobby, quadros cujo tema são as antenas. São quatro no
apartamento dela. "É uma beleza
exótica, mas que me incomoda."
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