São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2010

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"É coisa para inglês ver", diz padre sobre CNBB

Para o teólogo James Alison, que é inglês, bispos fazem "declarações grandiosas", mas "não estão atacando o problema"

Presidente de associação de gays e lésbicas, Toni Reis, classifica a posição dos religiosos brasileiros de "atitude da idade das trevas"

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pronunciamento feito ontem pelos bispos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) reforçando a recomendação para que seja evitada a ordenação de homossexuais na Igreja Católica foi recebido com ceticismo e reprovação por um representante da própria instituição e por um membro do movimento gay entrevistados pela Folha.
"Isso é coisa para inglês ver", afirmou o padre e teólogo inglês James Alison, que atualmente vive em São Paulo, após ouvir da Folha o conteúdo do documento divulgado ontem em Brasília.
"Estão fazendo declarações públicas grandiosas para dar a impressão de que estão limpando o curral, mas na realidade não estão atacando o problema [a ação de padres pedófilos]", acrescentou ele.
De acordo com o padre Alison, a Igreja Católica erra em outros dois momentos. Primeiro, ao confundir pedófilos com homossexuais.
"São coisas diferentes. O comportamento sexual do pedófilo pode ser tanto com pessoas do mesmo sexo quanto com pessoas do sexo oposto. É um sério erro de categoria por pedófilos e gays lado a lado. Estão jogando toda a culpa nos gays e fazendo um jogo de bode expiatório demasiado fácil."
Em segundo lugar, ainda conforme o padre, a Igreja Católica erra ao considerar a homossexualidade uma doença. "A Igreja fala em pessoas "com tendências homossexuais" e faz classificações que não existem em nenhum livro de medicina, psicologia ou psicanálise. Vê o homossexual como uma pessoa que não pode manter o celibato e, por isso, não pode se tornar sacerdote", afirma.
O padre inglês diz que "a ciência moderna já provou que não existe uma configuração doentia que seja intrínseca às pessoas homossexuais".

Idade das trevas
Seguindo o mesmo raciocínio, o presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Toni Reis, classificou a posição dos bispos brasileiros de "atitude da idade das trevas".
"Não é a orientação sexual de uma pessoa que vai dizer se ela é pedófila ou não. Estudos científicos apontam que não há relação", afirmou. (RICARDO WESTIN e LARISSA GUIMARÃES)

FOLHA ONLINE
Leia a íntegra do pronunciamento da CNBB
www.folha.com.br/1013328



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