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"É coisa para inglês ver", diz padre sobre CNBB
Para o teólogo James Alison, que é inglês, bispos fazem "declarações grandiosas", mas "não estão atacando o problema"
Presidente de associação de gays e lésbicas, Toni Reis, classifica a posição dos religiosos brasileiros de "atitude da idade das trevas"
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O pronunciamento feito ontem pelos bispos da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) reforçando a recomendação para que seja evitada a ordenação de homossexuais na Igreja Católica foi recebido com ceticismo e reprovação por um representante da
própria instituição e por um
membro do movimento gay entrevistados pela Folha.
"Isso é coisa para inglês ver",
afirmou o padre e teólogo inglês James Alison, que atualmente vive em São Paulo, após
ouvir da Folha o conteúdo do
documento divulgado ontem
em Brasília.
"Estão fazendo declarações
públicas grandiosas para dar a
impressão de que estão limpando o curral, mas na realidade não estão atacando o problema [a ação de padres pedófilos]", acrescentou ele.
De acordo com o padre
Alison, a Igreja Católica erra
em outros dois momentos. Primeiro, ao confundir pedófilos
com homossexuais.
"São coisas diferentes. O
comportamento sexual do pedófilo pode ser tanto com pessoas do mesmo sexo quanto
com pessoas do sexo oposto. É
um sério erro de categoria por
pedófilos e gays lado a lado. Estão jogando toda a culpa nos
gays e fazendo um jogo de bode
expiatório demasiado fácil."
Em segundo lugar, ainda
conforme o padre, a Igreja Católica erra ao considerar a homossexualidade uma doença.
"A Igreja fala em pessoas
"com tendências homossexuais" e faz classificações
que não existem em nenhum
livro de medicina, psicologia ou
psicanálise. Vê o homossexual
como uma pessoa que não pode
manter o celibato e, por isso,
não pode se tornar sacerdote",
afirma.
O padre inglês diz que "a
ciência moderna já provou que
não existe uma configuração
doentia que seja intrínseca às
pessoas homossexuais".
Idade das trevas
Seguindo o mesmo raciocínio, o presidente da ABGLT
(Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Toni Reis,
classificou a posição dos bispos
brasileiros de "atitude da idade
das trevas".
"Não é a orientação sexual de
uma pessoa que vai dizer se ela
é pedófila ou não. Estudos científicos apontam que não há relação", afirmou.
(RICARDO WESTIN e LARISSA GUIMARÃES)
FOLHA ONLINE
Leia a íntegra do
pronunciamento da CNBB
www.folha.com.br/1013328
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