São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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PITTAGATE
Prefeito reconduzido ao cargo promete não retaliar vereadores governistas que declararam apoio à administração de Regis
Pitta articula retorno de todos os auxiliares

JOÃO BATISTA NATALI
KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Celso Pitta tentou articular ontem a permanência de todo o seu secretariado, procurando vencer a resistência de alguns em continuar, e prometeu à base governista na Câmara que não faria retaliações aos vereadores que hipotecaram apoio ao interino Regis de Oliveira.
Ontem, reunidos com auxiliares no escritório de Edvaldo Brito, que ocupava a Secretaria de Negócios Jurídicos, Pitta argumentou que a permanência de todos os auxiliares era importante para demonstrar à opinião pública que eles não se sentiam incomodados com as suspeitas de improbidade administrativa.
Na visão de Pitta, a eventual perda de auxiliares no momento em que retorna à Prefeitura de São Paulo poderia parecer uma espécie de "confissão de culpa", reforçando ainda mais o carimbo de uma administração fragilizada.
Por isso, Pitta começou ontem mesmo a costurar um retorno sem crises, algo inevitável se houver um início de debandada.
Se ocorrer modificações no secretariado, Pitta tentará desvinculá-las de um eventual abandono de barco e do temor de que uma nova decisão judicial possa retirar os auxiliares de seus postos mais uma vez.
Nos últimos dias, vários auxiliares do prefeito manifestaram descontentamento com a forma como saíram do cargo em 26 de maio passado, um dia depois de o Tribunal de Justiça de São Paulo ter decidido afastar Pitta.
Segundo os insatisfeitos, o afastamento via decisão judicial soou como uma espécie de condenação prévia de toda a equipe que trabalhava com Pitta, especialmente os secretários que foram acusados de corrupção por Nicéa Pitta, ex-primeira-dama da capital.
Apesar de o afastamento ter acontecido sob o argumento de que, no cargo, Pitta dificultaria a investigação de eventuais irregularidades, os secretários insatisfeitos avaliavam que leitura da opinião pública era outra: culpa no cartório.
Na equipe de Pitta, os nomes que demonstravam mais vontade de deixar o secretariado eram Jorge Pagura (Saúde), Naor Guelfi (Administrações Regionais) e João Gualberto (Educação).
O próprio Pitta tentava convencer os hesitantes. Precisou conversar ontem à tarde duas vezes, por telefone, com Pagura, que participava em Fortaleza de um congresso de neurocirurgia.
Na segunda conversa, segundo a Folha apurou, Pagura teria aceitado continuar. O ex-secretário chegou a fazer um relato de providências que poderiam ser tomadas a respeito do cancelamento de contratos do programa de combate à dengue, decidido por José Aristodemo Pinotti, que ocupou a pasta da Saúde durante a efêmera administração de Regis.
Outro ex-secretário que participava das mesmas articulações era Getúlio Hanashiro, um dos primeiros a ser recebido por Pitta, depois que este soube da decisão do STJ.
De maneira também implícita, por volta das 17h de ontem Pitta reconfirmava a permanência de dois outros auxiliares. Deu a Carlos Augusto Meinberg, ex-secretário de Governo, e a Edvaldo Britto, a missão de negociar com Regis de Oliveira a retransmissão do cargo.
Naquele momento, o roteiro consistia em aguardar a notificação da decisão judicial para solicitar que Regis tivesse para com Pitta a mesma delicadeza protocolar que este tivera para com o prefeito interino 12 dias atrás. Ou seja, transmitir o cargo pessoalmente, sem intermediários.
Enquanto isso, na Câmara Municipal, os vereadores próximos a Pitta, sob a liderança de Brasil Vita (PTB), receberam o recado de que deveriam ficar discretos.
Não haveria retaliações contra aqueles que haviam abandonado a base governista (ultimamente com 29 dos 55 integrantes da Casa) e prometido apoio à gestão de Regis de Oliveira.
Para Pitta, dentro da estratégia de reassumir o posto sem crise, não interessa comprar briga com vereadores, pois ainda não terminaram os trabalhos da comissão processante que analisa o pedido de impeachment feito pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil).
Em troca -embora não houvesse a respeito qualquer acordo formalizado-, os governistas se comprometeriam a não fazer pressão por cargos e voltariam a tentar evitar o impeachment.



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