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"Ninguém é culpado sem prova"
ISABEL VERSIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) Francisco Peçanha Martins afirmou ontem à
Folha que, em seu entendimento,
políticos não devem ter seus mandatos suspensos por decisões liminares (provisórias).
""Já imaginou se, durante o exercício de um mandato, qualquer
juiz puder afastar um prefeito ou
um governador?", questionou.
""Ninguém é culpado sem prova
reconhecida em sentença judicial
transitada em julgado."
Peçanha Martins foi responsável pelo voto de desempate no julgamento da 2ª turma do STJ que
garantiu, ontem, a recondução de
Celso Pitta à prefeitura.
Para o ministro do STJ, apenas a
Câmara Municipal de São Paulo
teria legitimidade para afastar
Celso Pitta da prefeitura antes do
final do processo que analisa irregularidades cometidas por ele à
frente do cargo.
""O afastamento do prefeito com
base na Lei de Improbidade só
pode se dar por decisão política
da Câmara."
Em seu voto, o ministro argumentou, ainda, que não entendia
que a presença de Pitta no cargo
pudesse prejudicar as investigações sobre irregularidades cometidas por ele na prefeitura.
""Não vi que o prefeito estivesse
se opondo à colheita das provas.
Ao contrário, o que se viu foi que
ele trouxe aos autos provas relevantes para as investigações",
afirmou o ministro à Folha.
Para ele, se o tribunal tivesse
confirmado ontem o afastamento
de Pitta, estaria ""cassando" o prefeito. ""O que fizemos foi garantir
o direito de Pitta de manter o seu
mandato até o julgamento do recurso especial."
Peçanha Martins disse que o julgamento do recurso especial, em
que o STJ voltará a apreciar a ação
de improbidade contra Pitta, deverá ocorrer ""brevemente", mas
que os prazos dependem da relatora do caso, Eliana Calmon. ""Aí,
tudo pode acontecer. A decisão
não será mais liminar."
Ainda que ocorra antes do final
do mandato de Pitta, no dia 31 de
dezembro, o julgamento do recurso especial pelo STJ não encerraria o processo, porque a decisão
poderá ser questionada em outras
instâncias.
Viagem
No primeiro julgamento do caso Pitta pela 2ª turma, no início
deste mês, Peçanha Martins não
compareceu porque estava participando de um congresso sobre
telecomunicações nos Estados
Unidos e no Canadá.
Reportagem da Folha revelou
que as despesas do evento foram
pagas pelas empresas Ericsson e
Nortel.
Além de Peçanha Martins, outros 11 ministros do STJ e três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) participaram do congresso no exterior.
Peçanha Martins afirmou ontem que foi convidado para o seminário pela Escola Nacional de
Magistratura e que, até chegar aos
Estados Unidos, ele não tinha conhecimento de quais empresas
estavam patrocinando o evento.
No lugar de Peçanha Martins,
na julgamento do último dia 2,
votou pelo afastamento de Pitta
Milton Luiz Pereira, da 1ª turma
do STJ.
Colaborou Silvana de Freitas,
da Sucursal de Brasília
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