UOL


São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

Texto Anterior | Índice

INTOXICAÇÃO

Análise preliminar indica que pacientes ingeriram Celobar com substância tóxica; resultado final sairá na próxima semana

Exame aponta presença de bário em 3 vítimas

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

Avaliação preliminar das vísceras de três pessoas que morreram após tomar o contraste Celobar apontou a presença de bário, informou ontem o superintendente da Polícia Técnico-Científica de Goiás, Décio Ernesto de Azevedo Marinho. "Tudo indica que foi detectada a intoxicação", afirmou. Das 21 mortes suspeitas, 15 ocorreram no Estado.
Segundo ele, agora será realizada uma contraprova, com a avaliação de vísceras de pessoas que não tomaram o contraste, utilizado para destacar órgãos em radiografias do trato digestivo.
O superintendente não informou quais seriam as vítimas em que o exame deu positivo para bário. A análise será concluída no início da próxima semana.
Laudos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da UFG (Universidade Federal de Goiás) confirmaram a presença de 14% e 12,37%, respectivamente, de carbonato de bário em 100 g do contraste analisado.
As quantidades encontradas no produto (14 g e 12,37 g) são mais do que suficientes para matar. A dose letal do carbonato de bário, que é utilizado em alguns raticidas, é de 3 g em média.
O fabricante do contraste, laboratório Enila, já admitiu ter feito uma experiência com carbonato de bário na fábrica da empresa.
A presença de bário nas vísceras confirmaria que os pacientes ingeriram a droga com o carbonato, que é solúvel no organismo -em contato com o ácido do estômago, o bário é liberado.

Registro
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda mantinha ontem o registro do produto e a autorização do fabricante Enila para a produção de remédios.
De acordo com a assessoria de imprensa, o setor jurídico do órgão ainda verifica se abrirá um processo paralelo contra o laboratório Enila. Já há um procedimento iniciado pela Vigilância Sanitária do Rio. Toda a produção do Enila está suspensa.
A lei nº 6.360 de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária de medicamentos, diz no artigo 19 que será cancelado o registro de drogas sempre que efetuada modificação não autorizada em sua fórmula, dosagem, condições de fabricação, indicação de aplicações e especificações.
Já o artigo 72, inciso 1º, afirma que a comprovação da infração dará motivo, conforme o caso, à apreensão e inutilização do produto, em todo o território nacional, ao cancelamento do registro e à cassação da licença do estabelecimento.
O químico Vagner Teixeira, gerente de produção do laboratório, disse ontem em depoimento à polícia do Rio que não verificou nada de irregular na produção do contraste radiológico.
Ele afirmou que todo o equipamento estava limpo, pois havia sido lavado antes de começar a fabricação do medicamento. Teixeira disse que não sabia que a suposta experiência com carbonato de bário estava sendo realizada no laboratório.
O diretor do Enila, Márcio D'Icarahy, afirma que resquícios da experiência deixados em um equipamento podem ter causado a contaminação.
A chefe do departamento de controle microbiológico do laboratório, Leila Napoleão, confirmou que o lote contaminado havia sido reprovado por haver contaminação bacteriana.
Quando elaborou o laudo final, vetando a utilização, Leila Napoleão disse ter descoberto que o medicamento já havia sido liberado para venda e não estava mais no laboratório.
(FABIANE LEITE E SABRINA PETRY)


Texto Anterior: Poluição
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.