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Reitor inventou congresso para viajar, diz Promotoria
Ministério Público pede à Justiça que reitor de Santo André seja tirado do cargo
Bermelho passou 9 dias no Nordeste para participar de evento que não existiu; viagem foi custeada pela instituição dirigida por ele
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O reitor do Centro Universitário Fundação Santo André,
uma das instituições de ensino
mais importantes da Grande
São Paulo, é acusado de inventar um congresso de educação
em São Luís como pretexto para passar nove dias na capital
maranhense com todas as despesas pagas pela instituição.
O Ministério Público do Estado investigou o caso e, sob a
alegação de que o reitor Odair
Bermelho se aproveitou da instituição, apresentou ontem à
Justiça uma ação civil pública
pedindo que ele seja imediatamente retirado do cargo.
A Folha não conseguiu contato com o reitor para que ele
comentasse a ação.
Em julho de 2005, Bermelho
esteve em Fortaleza para participar da reunião anual da SBPC
(Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência). Terminado o evento, ele não retornou a Santo André. Da capital
cearense, voou para São Luís,
onde ocorreria a Jornada de
Educação do Maranhão.
Para ser reembolsado, Bermelho apresentou ao centro
universitário todas as notas fiscais da viagem. Os nove dias no
Maranhão custaram perto de
R$ 10,5 mil. As notas fiscais
chegaram ao Ministério Público por meio de uma denúncia
anônima.
Chamou a atenção dos promotores o recibo de inscrição
no evento. O comprovante do
pagamento de R$ 1.200 foi impresso numa folha de papel comum e com uma impressora de
péssima qualidade. Não havia
timbre ou carimbo oficial da
UFMA (Universidade Federal
do Maranhão), instituição que
teria realizado tal evento.
Os promotores entraram em
contato com a UFMA e comprovaram as acusações da denúncia anônima. A universidade maranhense afirmou que a
Jornada de Educação do Maranhão nunca existiu e que, portanto, o recibo é falso.
Diversos outros problemas
foram encontrados à medida
que cada papel era investigado.
A nota fiscal de um almoço de
R$ 54 teve o valor adulterado
para R$ 554 -problema parecido foi constatado em outros
papéis. Duas notas fiscais indicaram que o reitor jantou duas
vezes numa mesma noite no
mesmo restaurante. Vários recibos de táxi foram assinados
por um único motorista.
O jantar de encerramento do
suposto congresso custou
R$ 400. A reserva do vôo para
São Luís foi feita pelo próprio
reitor, não pelo departamento
de eventos do Centro Universitário Fundação Santo André.
O Ministério Público descobriu ainda que Bermelho não
ficou todos os dias em São Luís.
Durante aquela semana de julho, ele também visitou as cidades maranhenses de Raposa,
Alcântara e Barreirinhas. As
despesas também foram pagas
pelo centro universitário dirigido por ele.
O Ministério Público afirma
que o reitor "faltou com a verdade" e adotou uma "conduta
ardilosa". Por isso, argumentam os promotores, ele deve
ser substituído pelo vice-reitor.
Odair Bermelho está em seu
segundo mandato. Ele também
é o presidente da Fundação
Santo André, a mantenedora
da instituição de ensino. Existem outras acusações contra
ele (veja quadro ao lado).
A ação civil pública, que está
na 2ª Vara da Fazenda Pública
de Santo André, é assinada pelos promotores Patrícia Moroni e Airton Grazzioli, que cuidam de temas relativos a fundações. Procurados pela Folha,
eles não telefonaram de volta.
O Ministério Público deve levar outra ação à Justiça, para
exigir a devolução do dinheiro.
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