São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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FAMÍLIA

Maior expectativa de vida associada à gravidez precoce faz com que crianças conheçam avós mais jovens e ativos

Nova geração vai conviver mais com avós

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aquela vovó de cabeça branca cozinhando para a família no final de semana está desaparecendo. Nas próximas décadas, as crianças devem conhecer avós mais jovens e ativos e poderão conviver mais anos com eles.
O cruzamento de dois dados do Censo 2000 aponta a tendência: o alto índice de fecundidade na faixa dos 15 aos 19 anos, que leva mulheres e homens a partir dos 40 anos a se tornarem avós, somado ao aumento da expectativa de vida da população.
Os dados foram discutidos em um seminário na última segunda-feira na 54ª reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Goiânia.
Além de contribuir com a experiência na hora dos cuidados com o bebê, a "nova avó" desempenha um papel que antes era atribuído a tias e tios, como conversas mais francas e passeios, por exemplo.
O novo perfil das vovós, cujo dia se comemora em 26 de julho, é de uma mulher independente financeiramente e bem disposta para atividades com os netos.
"A relação que eu tinha com a minha avó é muito diferente da que os meus filhos têm com a minha mãe. A geração da minha avó ficava em casa dentro da cozinha, já a da minha mãe trabalha fora e é mais independente", diz Andrea Cardillo Gaz, 24, mãe de Leonardo, 3, e Luísa, 2.
Na casa, convivem quatro gerações da família: Andrea e seus filhos, sua mãe, a professora Anna Maria Randazzo Cardillo, 51, e a avó de Andrea, Matilde Randazzo Cardillo, 77. "Minha mãe era dona-de-casa e só via os netos no final de semana, era o modelo tradicional de avó", conta Anna Maria, que trabalha em média sete horas por dia e costuma levar os netos ao cinema e ao shopping.
O casal Sônia e Carlos Alberto Corrêa e Castro são avós há quase um ano. Ela tem 42 anos, ele, 51. A jovem avó é bióloga e trabalha durante o dia na Fundação Pró-Sangue. À noite, "paparica" o neto, Caio, de dez meses.
O bebê é filho de Rodrigo, 18, o caçula da família. A criança, a mãe Amarilis Paraíso, 19, e o pai vivem na casa de Sônia, onde também moram o marido e o filho mais velho do casal, Tiago, 20.
"O relacionamento com a minha nora é ótimo, somos amigas", conta Sônia.

Conflitos
Em casas onde convivem avós, pais e filhos é normal que haja conflitos em relação aos papéis que cada um deve desempenhar com as crianças.
"Muitas vezes, a avó fica confusa. Assumir que são avós é difícil. Assumir que a filha é mãe, mais difícil ainda", explica o pediatra Leonardo Posternak, co-autor de "E Agora, o que Fazer? -A Difícil Arte de Criar os Filhos".
Em relação ao avô, que geralmente se ressente mais quando descobre a gravidez da filha adolescente, a nova função é encarada com certa tranquilidade.
"Embora o pai pareça mais atingido pelo ato da filha no princípio, no momento em que ele assume o papel de avô a coisa flui com certa facilidade", explica o pediatra.
"Meu marido [Sidney Sopranzi" ficou aborrecido e chocado no começo, mas agora é um grande avô", conta a dona-de-casa Marisa Sopranzi, 53.
As duas filhas engravidaram cedo. A mais velha, Silvia, aos 19, e a mais nova, Lilian, aos 18. Silvia vive com o filho Gabriel, 4, e os pais. Lilian casou e tem duas filhas, Isabela, 3, e Natalia, 1. Marisa ajuda a filha Silvia a cuidar do neto, mas faz questão de lembrar do seu papel. "Ser avó é curtir o neto, não é ter as responsabilidades da mãe."


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