São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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AMBIENTE

Erosão avança na região

Risco de desertificação ameaça Alto Araguaia

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

O uso inadequado do solo já atinge mais de 70% das terras na região da bacia sul do Alto Araguaia, no Centro-Oeste. Graças à exploração indiscriminada da área, sobretudo pela agropecuária, as grandes erosões estão se tornando comuns e colocando em risco a cobertura de cerrado.
Um estudo inédito coordenado pelo Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da UFG (Universidade Federal de Goiás), já identificou 102 focos de erosão -alguns de alta complexidade, com até 1.300 m2- nos 1.516,73 km2 que cobrem os municípios de Mineiros e Santa Rita do Araguaia (GO), Taquari e Baús (MT).
Desenvolvido em parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), a pesquisa "Diagnóstico, Prognóstico e Controle de Erosões Lineares nos Estados de Mato Grosso e Goiás" aponta para a ameaça de arenização do solo.
Para a coordenadora-geral do projeto e professora da UFG, Selma Simões de Castro, as rochas areníticas que compõem a região são mais propensas que outros tipos de solo à transformação em grandes bancos de areia e voçorocas, estéreis para a agricultura e o reflorestamento.
"O processo natural de erosão tem sido acelerado e ampliado pela intervenção do homem. Por serem áreas de declive, as águas das chuvas e enxurradas formam sulcos nas partes planas inferiores, especialmente nas cabeceiras do rio Araguaia. A agricultura, a pastagem e a devastação das matas ciliares intensificam essas ocorrências", disse Selma.

Vazão
Em algumas nascentes e rios diretamente ligados ao Araguaia, a vazão da água está prejudicada ou bloqueada, formando areiões. A falta de drenagem também dá origem a novos vales.
Segundo a coordenadora, "a [sub-bacia" Chitolina já apresenta erosões de mais ou menos 300 m2, com ramificações. O represamento das águas do Araguaia afogou a vegetação ciliar, diminuindo a vazão do rio".
A erosão também fez com que as águas do rio Madeira, que alimentam a bacia do Araguaia, invadissem e destruíssem as fazendas ao seu redor. O monitoramento feito pelo projeto detectou que o solo está oco e as ramificações já atingem 200 m2 de extensão. Em 97, não atingiam 10 m2.
Para Selma, os efeitos se tornarão cada vez mais devastadores sem a implementação de políticas de desenvolvimento sustentável. O cerrado, que ocupava praticamente toda a extensão pesquisada, corresponde hoje a 34,11% da área -17,72% de cobertura densa e 16,39%, rala. Em 41,56% das terras há alta discrepância entre o uso efetivo e o potencial do solo.
"É preciso criar uma consciência de que algumas áreas podem ser usadas para agricultura e pecuária, desde que os limites do solo sejam respeitados. Em outros casos, devem ser preservadas."
"A destruição da vegetação potencializa o impacto da água. Em alguns pontos, não há mais como corrigir os efeitos. A situação é crítica na bacia do Taquari e Alto Araguaia", afirmou o diretor do Instituto de Geociências da Unicamp e colaborador da pesquisa, Archimedes Perez.
Na sub-bacia de Ribeirão do Sapo, caracterizada pelo alto cultivo de soja, as primeiras ações corretivas só tiveram início após a assinatura de um termo de responsabilidade proposto pelo Ministério Público aos produtores locais.
O estudo conclui que quatro pontos foram determinantes para a aceleração da destruição do cerrado, segundo maior bioma do país, atrás apenas da Mata Atlântica: desmatamento, uso excessivo do potencial do solo, desrespeito às leis ambientais e falta de orientação e fiscalização no manejo da terra.


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