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Como paciente, repórter paga R$ 100 a sessão
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Numa sala onde mal cabem dois sofás cobertos
com capas meio encardidas e uma cadeira de palha, a psicóloga Rozângela
Alves Justino promete
"curar" gays em terapia
que pode durar de dois a
cinco anos.
A mulher de fala mansa
e fleumática diz já ter "revertido" uns 200 pacientes da homossexualidade
-que vê como doença-
em 21 anos de profissão.
Sem se identificar como
jornalista, a reportagem se
passou por paciente e pagou por uma consulta -
R$ 200, regateados sem
resistência para R$ 100.
Para uma primeira sessão, ela mais fala do que
ouve. Tampouco anota dados ou declarações do consulente. Explica que faz
"militância política para
defender o direito daquelas pessoas que querem
voluntariamente deixar a
homossexualidade". "É
um transtorno porque
traz sofrimento", diz a psicóloga, formada nos anos
1980 no Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio.
Rozângela diz adotar a
"linha existencialista" e
que 50% de chance do sucesso da "cura" vem da
vontade do homossexual
de sair "dessa vida" e outros 50% decorrem do trabalho psicoterápico.
"É preciso entender o
que está por trás da homossexualidade. E a mudança vai acontecendo naturalmente. Vamos tentar
entender o que aconteceu
para que você tenha desenvolvido a homossexualidade. Na medida em que
você for entendendo a sua
história, vai ficar mais fácil
sair", diz.
Rozângela mostra plena
convicção no que defende.
"Com certeza há possibilidade de saída. Nesses
20 anos já vi várias pessoas
que deixaram a homossexualidade. Existe um grupo que deixou o comportamento homossexual. Existem pessoas que, além do
comportamento, deixaram a atração homossexual. E outras até desenvolveram a heterossexualidade e têm filhos."
No final da consulta, a
recomendação: "A igreja
pode ser um espaço terapêutico também" -embora não faça pregação.
(VQG)
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