São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2000


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TRANSPORTE
Prefeitura repassou R$ 235,3 milhões até o início deste mês; valor é o maior já pago em um mesmo ano desde 95
Ônibus recebem subsídio recorde em SP

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os gastos da Prefeitura de São Paulo com subsídios pagos às empresas de ônibus de janeiro até o último dia 2 chegaram a R$ 235,3 milhões, a maior soma já desembolsada pela administração em um mesmo ano, desde 1995.
No ano passado, por exemplo, R$ 183,4 milhões foram gastos durante os 12 meses. Os dados são da SPTrans (São Paulo Transporte, a gestora do setor na cidade).
Esses recursos, tirados dos impostos pagos pelos contribuintes, foram usados para cobrir o prejuízo de um modelo de sistema de transporte criado e mantido pela própria prefeitura.
O serviço, que deveria ser auto-sustentável, deteriorou-se, os passageiros abandonaram os ônibus e as empresas deixaram de se manter financeiramente. Mesmo assim, o sistema de transporte foi mantido praticamente intacto pela prefeitura.
Em vez de mudanças ou adoção de fiscalização rigorosa para sanar as supostas causas da deterioração -o surgimento dos perueiros e a consequente perda de passageiros e de arrecadação, por exemplo-, a prefeitura escolheu continuar pagando subsídios.

Sangria
Só nos últimos cinco anos, R$ 1,03 bilhão saiu dos cofres públicos para cobrir a diferença entre o que foi gasto e o valor arrecadado pelas empresas de ônibus (veja quadro nesta página).
A sangria só foi estancada há quatro meses, quando a prefeitura parou, temporariamente, de pagar subsídios às empresas.
Mesmo assim, os gastos com a ajuda foram tantos que os recursos que vêm sendo liberados para acertar os atrasados chegaram ao recorde de R$ 235,3 milhões.
Neste ano, as empresas de ônibus (51, atualmente) já receberam R$ 879,1 milhões até o mês de junho. Os recursos incluem subsídios e arrecadação com tarifas, valor que também sai do bolso do contribuinte. A passagem hoje na cidade custa R$ 1,15.

Aumento anual
A tarifa de ônibus sobe a cada ano. Movimento oposto ocorre com o número de usuários. As empresas transportavam, em média, 164 milhões de passageiros por mês há cinco anos. Neste ano, a média já caiu para 92,4 milhões (veja quadro nesta página).
Apesar do sumiço de passageiros, a frota e o número de linhas até aumentaram em relação a 1995. O incremento ocorreu no mesmo período em que cerca de 71,6 milhões de usuários deixaram de andar de ônibus.
Parte desses passageiros trocou os coletivos pelas peruas porque viu vantagem na nova modalidade de transporte.
Segundo os empresários, foi nesse ponto que começou a ser cobrada a "conta" -paga em forma de subsídio- pelo surgimento dos motoristas clandestinos.
"A prefeitura não tomou medidas eficientes de combate a peruas clandestinas e está pagando a conta. Se tivéssemos mais 30 milhões de passageiros por mês, até devolveríamos dinheiro para a prefeitura", afirma o diretor do Transurb (sindicato das empresas de ônibus), Antônio Sampaio.
Alberto Lauletta, 45, gerente de planejamento da SPTrans, reconhece que os gastos com subsídios surgiram porque o sistema de transporte não foi redimensionado após a queda de passageiros.
"O custo das empresas praticamente se manteve, mas houve redução na receita e a prefeitura teve de pagar mais para manter o sistema", disse.
Para conter esse gasto, Lauletta afirma que seria necessário reorganizar a estrutura do sistema.
"Teríamos de reduzir a frota, devido à queda na demanda, mas não dá para fazer isso sem prejudicar os usuários."

Gestão Pitta
Pelos dados da própria SPTrans, o prefeito Celso Pitta (PTN) é recordista em liberar recursos às empresas de ônibus, mas não conseguiu, até agora, cobrar delas um melhor serviço de transporte à população.
Hoje, o passageiro que estiver em um ponto vai chegar ao seu destino sacolejando em um ônibus com média de 6 anos e 11 meses de idade. Em 95, a idade média era de 5 anos e 5 meses.
O risco de o passageiro ser assaltado ao pegar esse ônibus vem caindo nos últimos três anos, mas já foi bem menor.
Foram 305 ocorrências por mês, em média, em 95. Atualmente esse índice médio chega a 802 casos mensais. Os ônibus também estão rodando menos, mas, segundo a SPTrans, isso ocorreu devido à otimização das linhas.



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