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TRANSPORTE
Prefeitura repassou R$ 235,3 milhões até o início deste mês; valor é o maior já pago em um mesmo ano desde 95
Ônibus recebem subsídio recorde em SP
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gastos da Prefeitura de São
Paulo com subsídios pagos às empresas de ônibus de janeiro até o
último dia 2 chegaram a R$ 235,3
milhões, a maior soma já desembolsada pela administração em
um mesmo ano, desde 1995.
No ano passado, por exemplo,
R$ 183,4 milhões foram gastos durante os 12 meses. Os dados são da
SPTrans (São Paulo Transporte, a
gestora do setor na cidade).
Esses recursos, tirados dos impostos pagos pelos contribuintes,
foram usados para cobrir o prejuízo de um modelo de sistema de
transporte criado e mantido pela
própria prefeitura.
O serviço, que deveria ser auto-sustentável, deteriorou-se, os passageiros abandonaram os ônibus
e as empresas deixaram de se
manter financeiramente. Mesmo
assim, o sistema de transporte foi
mantido praticamente intacto pela prefeitura.
Em vez de mudanças ou adoção
de fiscalização rigorosa para sanar as supostas causas da deterioração -o surgimento dos perueiros e a consequente perda de passageiros e de arrecadação, por
exemplo-, a prefeitura escolheu
continuar pagando subsídios.
Sangria
Só nos últimos cinco anos, R$
1,03 bilhão saiu dos cofres públicos para cobrir a diferença entre o
que foi gasto e o valor arrecadado
pelas empresas de ônibus (veja
quadro nesta página).
A sangria só foi estancada há
quatro meses, quando a prefeitura parou, temporariamente, de
pagar subsídios às empresas.
Mesmo assim, os gastos com a
ajuda foram tantos que os recursos que vêm sendo liberados para
acertar os atrasados chegaram ao
recorde de R$ 235,3 milhões.
Neste ano, as empresas de ônibus (51, atualmente) já receberam
R$ 879,1 milhões até o mês de junho. Os recursos incluem subsídios e arrecadação com tarifas,
valor que também sai do bolso do
contribuinte. A passagem hoje na
cidade custa R$ 1,15.
Aumento anual
A tarifa de ônibus sobe a cada
ano. Movimento oposto ocorre
com o número de usuários. As
empresas transportavam, em média, 164 milhões de passageiros
por mês há cinco anos. Neste ano,
a média já caiu para 92,4 milhões
(veja quadro nesta página).
Apesar do sumiço de passageiros, a frota e o número de linhas
até aumentaram em relação a
1995. O incremento ocorreu no
mesmo período em que cerca de
71,6 milhões de usuários deixaram de andar de ônibus.
Parte desses passageiros trocou
os coletivos pelas peruas porque
viu vantagem na nova modalidade de transporte.
Segundo os empresários, foi
nesse ponto que começou a ser
cobrada a "conta" -paga em forma de subsídio- pelo surgimento dos motoristas clandestinos.
"A prefeitura não tomou medidas eficientes de combate a peruas clandestinas e está pagando a
conta. Se tivéssemos mais 30 milhões de passageiros por mês, até
devolveríamos dinheiro para a
prefeitura", afirma o diretor do
Transurb (sindicato das empresas
de ônibus), Antônio Sampaio.
Alberto Lauletta, 45, gerente de
planejamento da SPTrans, reconhece que os gastos com subsídios surgiram porque o sistema
de transporte não foi redimensionado após a queda de passageiros.
"O custo das empresas praticamente se manteve, mas houve redução na receita e a prefeitura teve de pagar mais para manter o
sistema", disse.
Para conter esse gasto, Lauletta
afirma que seria necessário reorganizar a estrutura do sistema.
"Teríamos de reduzir a frota,
devido à queda na demanda, mas
não dá para fazer isso sem prejudicar os usuários."
Gestão Pitta
Pelos dados da própria SPTrans,
o prefeito Celso Pitta (PTN) é recordista em liberar recursos às
empresas de ônibus, mas não
conseguiu, até agora, cobrar delas
um melhor serviço de transporte
à população.
Hoje, o passageiro que estiver
em um ponto vai chegar ao seu
destino sacolejando em um ônibus com média de 6 anos e 11 meses de idade. Em 95, a idade média
era de 5 anos e 5 meses.
O risco de o passageiro ser assaltado ao pegar esse ônibus vem
caindo nos últimos três anos, mas
já foi bem menor.
Foram 305 ocorrências por mês,
em média, em 95. Atualmente esse índice médio chega a 802 casos
mensais. Os ônibus também estão
rodando menos, mas, segundo a
SPTrans, isso ocorreu devido à
otimização das linhas.
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