São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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RETRATO DO BRASIL

Estudo da Universidade Cândido Mendes, do Rio, utilizou dados do IBGE e do Sistema Único de Saúde

Risco de assassinato é 87% maior para negro

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A possibilidade de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 87% maior do que a de uma branca. O dado é revelado em uma pesquisa feita pelos professores Gláucio Soares e Doriam Borges, da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores relacionaram as taxas de vitimização de brancos e negros por 100 mil habitantes no ano de 2000. A taxa de vitimização é calculada a partir do número de vítimas por raça dividido pelo total de população de cada cor. Os números utilizados na pesquisa são do IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) e do SUS (Sistema Único de Saúde).
Os resultados da pesquisa confirmam uma tendência já demonstrada em outros estudos: a de que é maior a probabilidade de morte de negros do que de brancos no Brasil.
Em junho, o "Mapa da Violência 4", divulgado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), revelou que a taxa de homicídios de negros com idades entre 15 e 24 anos é 74% maior do que de brancos na mesma faixa etária. O estudo foi feito com base em dados de 2002.

Mulheres
O levantamento feito pelos professores da Cândido Mendes indicou ainda que o número de homicídios contra mulheres é ínfimo quando comparado ao de homens, o que vale tanto para brancos como para negros. Segundo a pesquisa, de cada 13 vítimas negras, apenas uma é mulher. Entre os brancos, de cada 12 mortos, somente um é do sexo feminino.
O trabalho indica ainda que as maiores taxas de homicídio por 100 mil habitantes, independentemente da raça, concentram-se nas pessoas que têm 24 anos. A taxa de negros mortos nessa idade é, por exemplo, sete vezes maior do que a de pessoas da mesma cor e que tenham 60 anos, de acordo com a pesquisa.
Para Gláucio Soares, o risco de negros serem mortos é maior do que o de brancos serem vítimas de homicídios porque há mais pessoas dessa raça vivendo em áreas de situação de risco.
"Os negros vivem em áreas com taxas mais altas de violência e se associam comparativamente mais com fatores de risco, como drogas e armas", disse ele à Folha.
Com os números que dispunha, Soares fez algumas estimativas. Segundo ele, se a taxa de vitimização dos negros fosse igual à dos brancos, 8.201 pessoas dessa raça deixariam de morrer em 2000.
De acordo com o pesquisador, se a taxa de homicídios de homens negros por 100 mil habitantes fosse igual ao índice de vítimas entre mulheres, 37.899 homens não seriam mortos. Soares disse que o estado civil das pessoas pode afetar o risco da violência. Segundo ele, as taxas são maiores para solteiros que para casados.
Como comparação, o pesquisador afirmou que 17.291 solteiros não seriam mortos se a taxa fosse igual à dos casados. "Os solteiros se expõem mais", disse.
O professor afirmou ainda que as pessoas mais religiosas se expõem menos a situações de risco, assim como aquelas que vivem em famílias estruturadas.
Para o pesquisador, a baixa legitimidade da polícia, da Justiça e do sistema político contribuem para aumentar a violência. "Uma polícia competente, preventiva e pró-ativa inibe o homicídio, além da certeza da punição."
Segundo Soares, a violência existirá sempre e em qualquer lugar do mundo. No entanto, o que deveria importar, segundo ele, é se morrerão duas ou 200 pessoas por 100 mil habitantes.


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