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RETRATO DO BRASIL
Estudo da Universidade Cândido Mendes, do Rio, utilizou dados do IBGE e do Sistema Único de Saúde
Risco de assassinato é 87% maior para negro
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A possibilidade de uma pessoa
negra ser assassinada no Brasil é
87% maior do que a de uma branca. O dado é revelado em uma
pesquisa feita pelos professores
Gláucio Soares e Doriam Borges,
da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro.
Para chegar a esse resultado, os
pesquisadores relacionaram as taxas de vitimização de brancos e
negros por 100 mil habitantes no
ano de 2000. A taxa de vitimização é calculada a partir do número de vítimas por raça dividido
pelo total de população de cada
cor. Os números utilizados na
pesquisa são do IBGE (Instituto
de Geografia e Estatística) e do
SUS (Sistema Único de Saúde).
Os resultados da pesquisa confirmam uma tendência já demonstrada em outros estudos: a
de que é maior a probabilidade de
morte de negros do que de brancos no Brasil.
Em junho, o "Mapa da Violência 4", divulgado pela Unesco
(Organização das Nações Unidas
para o Comércio e o Desenvolvimento), revelou que a taxa de homicídios de negros com idades
entre 15 e 24 anos é 74% maior do
que de brancos na mesma faixa
etária. O estudo foi feito com base
em dados de 2002.
Mulheres
O levantamento feito pelos professores da Cândido Mendes indicou ainda que o número de homicídios contra mulheres é ínfimo
quando comparado ao de homens, o que vale tanto para brancos como para negros. Segundo a
pesquisa, de cada 13 vítimas negras, apenas uma é mulher. Entre
os brancos, de cada 12 mortos, somente um é do sexo feminino.
O trabalho indica ainda que as
maiores taxas de homicídio por
100 mil habitantes, independentemente da raça, concentram-se nas
pessoas que têm 24 anos. A taxa
de negros mortos nessa idade é,
por exemplo, sete vezes maior do
que a de pessoas da mesma cor e
que tenham 60 anos, de acordo
com a pesquisa.
Para Gláucio Soares, o risco de
negros serem mortos é maior do
que o de brancos serem vítimas
de homicídios porque há mais
pessoas dessa raça vivendo em
áreas de situação de risco.
"Os negros vivem em áreas com
taxas mais altas de violência e se
associam comparativamente
mais com fatores de risco, como
drogas e armas", disse ele à Folha.
Com os números que dispunha,
Soares fez algumas estimativas.
Segundo ele, se a taxa de vitimização dos negros fosse igual à dos
brancos, 8.201 pessoas dessa raça
deixariam de morrer em 2000.
De acordo com o pesquisador,
se a taxa de homicídios de homens negros por 100 mil habitantes fosse igual ao índice de vítimas
entre mulheres, 37.899 homens
não seriam mortos. Soares disse
que o estado civil das pessoas pode afetar o risco da violência. Segundo ele, as taxas são maiores
para solteiros que para casados.
Como comparação, o pesquisador afirmou que 17.291 solteiros
não seriam mortos se a taxa fosse
igual à dos casados. "Os solteiros
se expõem mais", disse.
O professor afirmou ainda que
as pessoas mais religiosas se expõem menos a situações de risco,
assim como aquelas que vivem
em famílias estruturadas.
Para o pesquisador, a baixa legitimidade da polícia, da Justiça e
do sistema político contribuem
para aumentar a violência. "Uma
polícia competente, preventiva e
pró-ativa inibe o homicídio, além
da certeza da punição."
Segundo Soares, a violência
existirá sempre e em qualquer lugar do mundo. No entanto, o que
deveria importar, segundo ele, é
se morrerão duas ou 200 pessoas
por 100 mil habitantes.
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