São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Escola municipal terá carga horária maior

Para implementar a mudança, prefeitura prevê o fim do terceiro turno e o aumento do número de alunos por turma

Para educadores, hora extra deveria ser voltada a aulas de português e matemática, áreas em que os alunos têm um desempenho mais fraco


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir do ano que vem, 260 mil dos 548 mil estudantes do ensino fundamental da Prefeitura de São Paulo vão ficar uma hora a mais na escola todo dia. A grade curricular obrigatória passará de quatro para cinco horas, o que, ao fim de oito anos, será o equivalente a dois anos a mais de escolaridade. Até 2008, a ampliação deverá atingir todos os estudantes.
Para aumentar as aulas em 208 escolas de ensino fundamental, das 459 existentes hoje, a secretaria municipal da Educação vai acabar com o terceiro turno -no qual os alunos têm aulas entre as 11h e as 15h- de mais 58 colégios (hoje, 309 funcionam em três).
A mudança só será possível, segundo a prefeitura, por meio de quatro medidas: construção de novas salas (além de cinco novos CEUs, a secretaria promete entregar a ampliação de 93 escolas até o começo de 2007), parceria com a rede estadual para distribuição dos alunos, uso de salas utilizadas em projetos diversos (como salas de artes) e formação de classes com no máximo 40 alunos, com exceção das séries iniciais.
As duas últimas medidas são criticadas. Para Marisa Melillo Meira, professora de psicologia escolar da Unesp, acabar com salas de artes é uma atitude equivocada. "A escola e os alunos saem perdendo. Eles precisam de um espaço para atividades artísticas, porque a sala normal não é adequada para todas as aulas."
Professora de políticas públicas de educação da PUC-SP, Maria Ângela Barbato Carneiro é contra o aumento do número de alunos. A média atual é de 35 estudantes por turma. "Ter 40 alunos é muito, nenhum professor dá conta. Não adianta só garantir a permanência do aluno na escola, tem de garantir o bom ensino."
Ela lembra que o aumento dos dias letivos de 180 para 200 não melhorou a qualidade da educação. "Não adianta aumentar a carga horária sem um trabalho com os professores. O período de aulas poderá ficar ainda mais enfadonho."
Outra ponderação é a de que as horas extras deveriam ser utilizadas para aulas de português e matemática, já que as últimas avaliações nacionais apontam um fraco desempenho nessas disciplinas. O projeto prevê que a carga horária seja preenchida com aulas nas salas de leitura e de informática.
"Os alunos precisam de mais tempo para absorver os conteúdos dessas matérias, de uma forma mais leve. Seria melhor do que ficar dando aula de informática", diz o vereador Beto Custódio (PT), professor e integrante da comissão de Educação da Câmara Municipal. "Essas medidas são eleitoreiras."
O secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, diz que a grade poderá ser preenchida também com aulas de reforço. "Além disso, o projeto Ler e Escrever será ampliado para todas as séries."
Ele diz que as classes não ficarão superlotadas e que as atividades de artes continuarão. "Mas muitas salas para projetos diversos estavam subutilizadas." As oficinas culturais e esportivas, que hoje funcionam no horário oposto ao das aulas, também serão mantidas.
O secretário diz que a partir de 2007 todas as crianças farão as atividades de leitura e informática e estarão sempre com a sua turma. Hoje, alunos de diferentes séries ficam misturados, e só participa da atividade quem pode ir e voltar para a escola, pois elas ocorrem no período oposto ao das aulas.
As mudanças serão anunciadas pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL) nos próximos dias e foram antecipadas à Folha. "A nossa prioridade zero é a educação, e é um absurdo que uma cidade que quer priorizar essa área tenha escolas com três turnos."


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