São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Tradicional colégio da elite paulistana vai construir escola bilíngue e em tempo integral para conseguir atender demanda

Aos 50, Santa Cruz anuncia nova unidade

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Colégio Santa Cruz, tradicional escola da elite paulistana, completa hoje 50 anos e anuncia a construção de uma segunda unidade em São Paulo. A nova escola, que começará a funcionar a partir de 2004, será bilíngue e funcionará em tempo integral.
O anúncio oficial da obra vai ocorrer hoje durante as comemorações do cinquentenário do colégio. A nova unidade será construída em um terreno de 15 mil m2, próximo ao campus da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo o diretor-geral do Santa Cruz, Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, 57, a idéia é que, no primeiro ano do ensino fundamental, a criança seja alfabetizada em português, mas que já tenha contato com a língua inglesa nas atividades recreativas.
A partir do segundo ano, as aulas serão bilíngues. Ele diz que uma equipe de professores está elaborando um projeto pedagógico baseado em uma extensa bibliografia sobre teorias de aprendizagem de línguas. Parte do material é de autores canadenses que têm uma grande experiência com o ensino bilíngue. Em algumas regiões do Canadá, a população é alfabetizada em inglês e francês.
A relação do Colégio Santa Cruz com o Canadá remonta às suas origens. A escola foi fundada pelo padre canadense Lionel Corbeil e teve como principal teórico o também padre canadense Paul-Eugène Charbonneau.
De acordo com Magalhães, a criação de uma segunda unidade visa atender uma demanda crescente de alunos, que hoje a escola não consegue absorver.
O colégio, cujas mensalidades variam de R$ 850 a R$ 980, é um dos mais concorridos da capital paulista. A seleção de novos alunos, exceto na pré-escola, é feita por meio de um "vestibulinho".
Para a 5ª série do ensino fundamental, por exemplo, há dez candidatos por vaga. No ensino médio, a relação é de seis candidatos por vaga. Na pré-escola, o colégio só aceita filhos de ex-alunos e de funcionários ou crianças que já tenham irmãos estudando na escola. Ainda assim, neste ano, 37 alunos não conseguiram vaga.
"Sempre tivemos preocupação em manter nosso padrão de qualidade. E foi para não comprometê-lo que evitamos abrir vagas na mesma proporção da demanda", afirma Magalhães, que está na direção do colégio desde 1993, ano em que os padres deixaram o comando da escola.
A carência de vagas, aliada ao glamour de ser uma escola frequentada pela elite, torna o Santa Cruz um colégio ainda mais atraente, segundo psicólogos e educadores ouvidos pela Folha.
"Muitas vezes, conseguir uma vaga numa escola como essa é mais um sonho dos pais, uma questão pessoal, do que a real necessidade do aluno", afirma a psicóloga Glaura Fernandes, 37, ex-aluna do Santa Cruz. Segundo ela, os pais devem escolher a escola de acordo com as características do filho. "Uma criança tímida pode ter problemas de relacionamento ao ser inserida em uma escola muito grande", diz a psicóloga.
A jornalista Cecília Galvão diz que o filho prestou o "vestibulinho" mesmo contra a sua vontade. O marido, ex-aluno do Santa Cruz, desejava que o filho também estudasse na escola. Ela afirma que o filho teve ótimo desempenho nos testes, mas não conseguiu a vaga. "Para ele foi péssimo." O menino estuda hoje na Escola da Vila.
Além do anúncio da nova unidade, as comemorações do aniversário do Santa Cruz reservam aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários e convidados boas surpresas. Ontem, foi inaugurado um teatro com capacidade para 600 pessoas. Hoje, às 10h, haverá missa no colégio. Além disso, uma exposição de 1.100 fotos contempla as várias fases do "Santa" ao longo das últimas cinco décadas. Será possível ver, por exemplo, o então estudante Chico Buarque em vários momentos de sua rotina escolar. O compositor estudou lá no período de 1956 a 1962.
Além da exposição, instalada em dois pavilhões de 540 m2, construídos especialmente para o evento, enormes banners com 11 mil fotos de todos os alunos e funcionários que passaram pelo colégio e seus respectivos nomes vão cobrir as laterais do recinto.
"As fotos seguem uma linha do tempo. A idéia é que as pessoas se descubram ali", diz o diretor.
Entre os ex-alunos, o sentimento é de saudosismo. Afirmam que o colégio lhes proporcionou amizades indissolúveis.
"Sempre que a gente se encontra, é aquela festa", afirma o cineasta Fernando Meirelles, 47, que estudou no Santa Cruz de 1968 a 1974.
Para o economista e cientista social Eduardo Giannetti Fonseca, 45, professor da USP, o único fato que o ressentia no período em que estudou no Santa Cruz era não ter a companhia de colegas meninas. Até 1974, o colégio era exclusivo para meninos.


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