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EDUCAÇÃO
Tradicional colégio da elite paulistana vai construir escola bilíngue e em tempo integral para conseguir atender demanda
Aos 50, Santa Cruz anuncia nova unidade
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Colégio Santa Cruz, tradicional escola da elite paulistana,
completa hoje 50 anos e anuncia a
construção de uma segunda unidade em São Paulo. A nova escola,
que começará a funcionar a partir
de 2004, será bilíngue e funcionará em tempo integral.
O anúncio oficial da obra vai
ocorrer hoje durante as comemorações do cinquentenário do colégio. A nova unidade será construída em um terreno de 15 mil
m2, próximo ao campus da USP
(Universidade de São Paulo).
Segundo o diretor-geral do Santa Cruz, Luiz Eduardo Cerqueira
Magalhães, 57, a idéia é que, no
primeiro ano do ensino fundamental, a criança seja alfabetizada
em português, mas que já tenha
contato com a língua inglesa nas
atividades recreativas.
A partir do segundo ano, as aulas serão bilíngues. Ele diz que
uma equipe de professores está
elaborando um projeto pedagógico baseado em uma extensa bibliografia sobre teorias de aprendizagem de línguas. Parte do material é de autores canadenses que
têm uma grande experiência com
o ensino bilíngue. Em algumas regiões do Canadá, a população é alfabetizada em inglês e francês.
A relação do Colégio Santa Cruz
com o Canadá remonta às suas
origens. A escola foi fundada pelo
padre canadense Lionel Corbeil e
teve como principal teórico o
também padre canadense Paul-Eugène Charbonneau.
De acordo com Magalhães, a
criação de uma segunda unidade
visa atender uma demanda crescente de alunos, que hoje a escola
não consegue absorver.
O colégio, cujas mensalidades
variam de R$ 850 a R$ 980, é um
dos mais concorridos da capital
paulista. A seleção de novos alunos, exceto na pré-escola, é feita
por meio de um "vestibulinho".
Para a 5ª série do ensino fundamental, por exemplo, há dez candidatos por vaga. No ensino médio, a relação é de seis candidatos
por vaga. Na pré-escola, o colégio
só aceita filhos de ex-alunos e de
funcionários ou crianças que já
tenham irmãos estudando na escola. Ainda assim, neste ano, 37
alunos não conseguiram vaga.
"Sempre tivemos preocupação
em manter nosso padrão de qualidade. E foi para não comprometê-lo que evitamos abrir vagas na
mesma proporção da demanda",
afirma Magalhães, que está na direção do colégio desde 1993, ano
em que os padres deixaram o comando da escola.
A carência de vagas, aliada ao
glamour de ser uma escola frequentada pela elite, torna o Santa
Cruz um colégio ainda mais
atraente, segundo psicólogos e
educadores ouvidos pela Folha.
"Muitas vezes, conseguir uma
vaga numa escola como essa é
mais um sonho dos pais, uma
questão pessoal, do que a real necessidade do aluno", afirma a psicóloga Glaura Fernandes, 37, ex-aluna do Santa Cruz. Segundo ela,
os pais devem escolher a escola de
acordo com as características do
filho. "Uma criança tímida pode
ter problemas de relacionamento
ao ser inserida em uma escola
muito grande", diz a psicóloga.
A jornalista Cecília Galvão diz
que o filho prestou o "vestibulinho" mesmo contra a sua vontade. O marido, ex-aluno do Santa
Cruz, desejava que o filho também estudasse na escola. Ela afirma que o filho teve ótimo desempenho nos testes, mas não conseguiu a vaga. "Para ele foi péssimo." O menino estuda hoje na Escola da Vila.
Além do anúncio da nova unidade, as comemorações do aniversário do Santa Cruz reservam
aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários e convidados boas surpresas. Ontem, foi
inaugurado um teatro com capacidade para 600 pessoas. Hoje, às
10h, haverá missa no colégio.
Além disso, uma exposição de
1.100 fotos contempla as várias fases do "Santa" ao longo das últimas cinco décadas. Será possível
ver, por exemplo, o então estudante Chico Buarque em vários
momentos de sua rotina escolar.
O compositor estudou lá no período de 1956 a 1962.
Além da exposição, instalada
em dois pavilhões de 540 m2,
construídos especialmente para o
evento, enormes banners com 11
mil fotos de todos os alunos e funcionários que passaram pelo colégio e seus respectivos nomes vão
cobrir as laterais do recinto.
"As fotos seguem uma linha do
tempo. A idéia é que as pessoas se
descubram ali", diz o diretor.
Entre os ex-alunos, o sentimento é de saudosismo. Afirmam que
o colégio lhes proporcionou amizades indissolúveis.
"Sempre que a gente se encontra, é aquela festa", afirma o cineasta Fernando Meirelles, 47,
que estudou no Santa Cruz de
1968 a 1974.
Para o economista e cientista
social Eduardo Giannetti Fonseca, 45, professor da USP, o único
fato que o ressentia no período
em que estudou no Santa Cruz era
não ter a companhia de colegas
meninas. Até 1974, o colégio era
exclusivo para meninos.
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