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PASSAGENS PAULISTANAS
Na estréia de túnel, marronzinho usa jogo de cintura para evitar brigas com quem se perdeu
Fiscal atende 5 motoristas por minuto
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Logo às 7h, uma motorista desce a avenida Rebouças, no sentido
centro-bairro, e se aproxima vagarosamente da esquina da avenida Faria Lima, gesticulando irritada atrás do volante.
Sem saber se deve invadir a faixa do Passa-Rápido, que cruza a
Faria Lima direto, ou seguir o fluxo de veículos que entram à direita na avenida, a publicitária Andrea Mitelman abaixa o vidro,
nervosa, e pede auxílio para Nilson Cunha, 48. Cunha é funcionário da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) há 19 anos e foi
destacado para orientar os motoristas no primeiro dia útil de funcionamento do corredor de ônibus e do túnel na Rebouças.
"Como é que eu atravesso para
lá?", pergunta, ríspida, ao marronzinho. "É um absurdo! Não
tem placa nenhuma explicando
como faço para pegar a marginal!" Cunha, pacientemente, explica o novo trajeto.
"A gente passa cada coisa...", comenta ele. "Mas não pode esquentar. Senão, você fica doido",
diz. "O pessoal fica muito estressado no trânsito. Se a gente [os fiscais da CET] não tiver jogo de cintura, tudo vira briga", continua.
"E o pior é que tem duas faixas
avisando do novo trajeto. Mas, assim como ela, ninguém vê."
Na manhã de ontem, das 7h às
11h, a cada minuto, uma média de
cinco motoristas, confusos com o
novo trajeto, paravam ao lado de
Cunha para pedir informações.
A costureira Marisa Fernandes,
41, foi um desses motoristas atrapalhados com as mudanças. "Fiquei com medo de pegar o túnel
porque não sabia onde ele termina. A faixa da CET diz Castello
Branco e Francisco Matarazzo,
mas o túnel termina antes da ponte Eusébio Matoso", reclama da
indicação a motorista.
"Estou superconfuso", admite o
chef de cozinha Waltim de Carvalho, 49. "Só agora que estou na Faria Lima descobri que deveria ter
pego o túnel até a marginal."
"Para mim, isso aqui está uma
maravilha", diz o incorporador
imobiliário Jô Laniado, 65.
"É sempre assim: uns gostam,
outros não. Não tem jeito", comenta o marronzinho.
Para estar logo cedo onde o
trânsito está, Cunha levanta às
3h30. Tem carro, mas prefere pegar dois ônibus ("de Bilhete Único, é claro") às 4h30 a dirigir até a
central da CET. "Detesto pegar
trânsito. Prefiro ser um carro a
menos na rua e ir de ônibus." Antes mesmo das 6h, ele já está nas
ruas. E logo o rádio que carrega na
cintura começa a passar os avisos
de acidentes, carros parados em
locais proibidos, pontos de congestionamento, semáforos com
problemas.
Do outro lado do rádio, na central da CET, o técnico Jesus é requisitado o tempo todo para dar
solução para a confusão criada
pelo novo túnel. Às 7h30: "Jesus,
precisa ajustar o semáforo da
Henrique Monteiro. Ele tá travando tudo aqui". Às 8h15: "Jesus,
tem um semáforo que precisa de
manutenção aqui na Lorena com
a Haddock Lobo. Copia?". Às
9h45: "Ô Jesus, os carros estão fechando o cruzamento da Rebouças com a Maria Carolina. Precisamos de reforço".
"A gente brinca que, para resolver o trânsito de São Paulo, só
chamando Jesus", conta ele.
Para Cunha, os motoristas ainda devem demorar cerca de um
mês para se acostumar ao novo
trajeto. Durante pelo menos duas
semanas, os fiscais da CET não
multarão os carros que cometerem infrações no túnel e nas faixas
do Passa-Rápido. "Por enquanto,
vamos apenas orientar", disse.
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