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A SANGUE FRIO
Vigilante preso afirma que o comparsa planejou o assalto aos Yonekura, torturou-os e cometeu os assassinatos
Amigo da família diz que só amarrou vítimas
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O vigilante Ricardo Francisco
dos Santos, 26, admitiu ontem, segundo a polícia, envolvimento na
chacina de cinco pessoas de uma
mesma família de origem japonesa em São Paulo, a qual ele conhecia desde a infância, mas apontou
um suposto comparsa, foragido
da Justiça, como o mentor do crime e autor das agressões.
Ricardo foi preso anteontem.
Segundo o DHPP (Departamento
de Homicídios e Proteção à Pessoa), só ontem ele apontou Celso
Alencar dos Santos, 33, como o
autor dos assassinatos. Ele seria
primo de sua companheira. A polícia suspeita que mais dois homens, que ainda não foram identificados, participaram do crime.
Celso fugiu de um presídio em
Franco da Rocha (Grande São
Paulo) em março deste ano, onde
cumpria pena por homicídio,
roubo e porte ilegal de arma. Ele
ainda não foi localizado pela polícia. "Ele [Ricardo] afirma que
quem fez tudo foi o outro, o que é
impossível. Ele conhecia a família
e matou as pessoas porque foi reconhecido durante o assalto",
afirma o delegado Luiz Fernando
Lopes Teixeira, do DHPP.
Os ladrões invadiram a casa da
família Yonekura, na Vila Nova
Curuçá (zona leste de SP), no final
da tarde do último sábado (por
volta das 18h, segundo o que Ricardo teria dito à polícia). Só saíram 12 horas depois.
O casal de aposentados Tadashi
e Futaba Yonekura, os filhos Nilton e Fatima e a nora do casal, Erica Miyamoto, foram torturados
com queimaduras de cigarro e
mortos a pauladas e tiros -três
corpos ainda foram incendiados
pelos criminosos.
Willian Jun -filho do casal e
marido de Erica- levou pauladas
na cabeça, mas sobreviveu e continua hospitalizado. Ele perdeu
parcialmente a consciência e foi
dado como morto pelos criminosos, segundo a hipótese da polícia.
Seu filho, de 11 meses, foi o único
poupado.
O bebê estava no colo da mãe,
Erica, quando ela foi atingida por
um tiro na cabeça. Ele não sofreu
ferimentos, mas permanece hospitalizado em observação.
Os ladrões procuravam o dinheiro que Willian tinha ganho
trabalhando no Japão, cerca de
US$ 30 mil. Só que ele, que chegara naquele dia daquele país, só
trouxe US$ 3.000 em espécie -o
restante fora depositado em um
banco. No total, os ladrões levaram US$ 5.000 da família.
Amigos de infância
Ricardo era amigo de infância
de Nilton e nunca deixou de freqüentar a casa da família, segundo depoimentos de vizinhos e parentes coletado pela polícia.
Os dois foram colegas de escola.
O pai do vigilante também prestava serviço de pedreiro para o patriarca da família, Tadashi Yonekura, também de acordo com investigação do DHPP.
Foi o aposentado quem primeiro reconheceu Ricardo, apesar de
ele usar uma camiseta na cabeça
para se disfarçar, segundo depoimento de Willian à polícia.
"Ricardo, por que você está fazendo isso com a gente?", teria dito Tadashi. Em outra ocasião, o
patriarca também teria citado o
nome do amigo da família ao pedir para ir ao banheiro.
Por causa desse reconhecimento, Ricardo resolveu matar a família, segundo acredita a polícia.
Willian também teria reconhecido Ricardo, apesar do disfarce.
"O sobrevivente reconheceu o
suspeito pelos olhos e pelos dentes. Também foi feito um reconhecimento por voz", disse o delegado Teixeira. Segundo o
DHPP, Willian já prestou três depoimentos no hospital.
Ameaças
O vigilante negou ser o mentor
do crime. Disse, segundo a polícia, que comentou com Celso que
Willian, a mulher, a irmã e o filho
estavam para chegar ao Brasil e
que trariam dinheiro.
Ele sabia, por exemplo, que Willian tinha reunido US$ 30 mil trabalhando naquele país.
Mas Ricardo disse que foi ameaçado pelo comparsa e obrigado a
participar do crime, versão contestada pela polícia.
Na casa dos Yonekura, onde
chegou com sua moto, o vigilante
afirmou que apenas ajudou a
amarrar os integrantes da família,
mas que não foi responsável pelas
agressões e torturas.
Segundo o que ele teria dito à
polícia, Celso teria matado sozinho os cinco integrantes da família, que estavam rendidos.
Segundo o vigilante, Celso ficou
de trocar os dólares para depois
dividir o dinheiro. A arma do crime também teria ficado com ele.
"Só ele [Ricardo" conhecia a família. Não faz sentido dizer que
não foi o mentor do crime", diz o
delegado. Para o delegado, o crime começou a ser planejado há
dois meses. Nas últimas semanas,
Ricardo teria intensificado os telefonemas e visitas a Nilton, que teria comentado com amigos, com
desconfiança.
Os jornalistas não puderam falar com o vigilante. A polícia não
informou se ele tem advogado.
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