São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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A SANGUE FRIO

Vigilante preso afirma que o comparsa planejou o assalto aos Yonekura, torturou-os e cometeu os assassinatos

Amigo da família diz que só amarrou vítimas

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O vigilante Ricardo Francisco dos Santos, 26, admitiu ontem, segundo a polícia, envolvimento na chacina de cinco pessoas de uma mesma família de origem japonesa em São Paulo, a qual ele conhecia desde a infância, mas apontou um suposto comparsa, foragido da Justiça, como o mentor do crime e autor das agressões.
Ricardo foi preso anteontem. Segundo o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), só ontem ele apontou Celso Alencar dos Santos, 33, como o autor dos assassinatos. Ele seria primo de sua companheira. A polícia suspeita que mais dois homens, que ainda não foram identificados, participaram do crime.
Celso fugiu de um presídio em Franco da Rocha (Grande São Paulo) em março deste ano, onde cumpria pena por homicídio, roubo e porte ilegal de arma. Ele ainda não foi localizado pela polícia. "Ele [Ricardo] afirma que quem fez tudo foi o outro, o que é impossível. Ele conhecia a família e matou as pessoas porque foi reconhecido durante o assalto", afirma o delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, do DHPP.
Os ladrões invadiram a casa da família Yonekura, na Vila Nova Curuçá (zona leste de SP), no final da tarde do último sábado (por volta das 18h, segundo o que Ricardo teria dito à polícia). Só saíram 12 horas depois.
O casal de aposentados Tadashi e Futaba Yonekura, os filhos Nilton e Fatima e a nora do casal, Erica Miyamoto, foram torturados com queimaduras de cigarro e mortos a pauladas e tiros -três corpos ainda foram incendiados pelos criminosos.
Willian Jun -filho do casal e marido de Erica- levou pauladas na cabeça, mas sobreviveu e continua hospitalizado. Ele perdeu parcialmente a consciência e foi dado como morto pelos criminosos, segundo a hipótese da polícia. Seu filho, de 11 meses, foi o único poupado.
O bebê estava no colo da mãe, Erica, quando ela foi atingida por um tiro na cabeça. Ele não sofreu ferimentos, mas permanece hospitalizado em observação.
Os ladrões procuravam o dinheiro que Willian tinha ganho trabalhando no Japão, cerca de US$ 30 mil. Só que ele, que chegara naquele dia daquele país, só trouxe US$ 3.000 em espécie -o restante fora depositado em um banco. No total, os ladrões levaram US$ 5.000 da família.

Amigos de infância
Ricardo era amigo de infância de Nilton e nunca deixou de freqüentar a casa da família, segundo depoimentos de vizinhos e parentes coletado pela polícia.
Os dois foram colegas de escola. O pai do vigilante também prestava serviço de pedreiro para o patriarca da família, Tadashi Yonekura, também de acordo com investigação do DHPP.
Foi o aposentado quem primeiro reconheceu Ricardo, apesar de ele usar uma camiseta na cabeça para se disfarçar, segundo depoimento de Willian à polícia.
"Ricardo, por que você está fazendo isso com a gente?", teria dito Tadashi. Em outra ocasião, o patriarca também teria citado o nome do amigo da família ao pedir para ir ao banheiro.
Por causa desse reconhecimento, Ricardo resolveu matar a família, segundo acredita a polícia.
Willian também teria reconhecido Ricardo, apesar do disfarce. "O sobrevivente reconheceu o suspeito pelos olhos e pelos dentes. Também foi feito um reconhecimento por voz", disse o delegado Teixeira. Segundo o DHPP, Willian já prestou três depoimentos no hospital.

Ameaças
O vigilante negou ser o mentor do crime. Disse, segundo a polícia, que comentou com Celso que Willian, a mulher, a irmã e o filho estavam para chegar ao Brasil e que trariam dinheiro.
Ele sabia, por exemplo, que Willian tinha reunido US$ 30 mil trabalhando naquele país.
Mas Ricardo disse que foi ameaçado pelo comparsa e obrigado a participar do crime, versão contestada pela polícia.
Na casa dos Yonekura, onde chegou com sua moto, o vigilante afirmou que apenas ajudou a amarrar os integrantes da família, mas que não foi responsável pelas agressões e torturas.
Segundo o que ele teria dito à polícia, Celso teria matado sozinho os cinco integrantes da família, que estavam rendidos.
Segundo o vigilante, Celso ficou de trocar os dólares para depois dividir o dinheiro. A arma do crime também teria ficado com ele.
"Só ele [Ricardo" conhecia a família. Não faz sentido dizer que não foi o mentor do crime", diz o delegado. Para o delegado, o crime começou a ser planejado há dois meses. Nas últimas semanas, Ricardo teria intensificado os telefonemas e visitas a Nilton, que teria comentado com amigos, com desconfiança.
Os jornalistas não puderam falar com o vigilante. A polícia não informou se ele tem advogado.


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