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SAÚDE
Vítimas tinham até cinco anos; seis eram indígenas
Surto epidêmico de rotavírus mata 11 crianças em cidade do Amazonas
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A Secretaria da Saúde de Ipixuna (1.380 km ao sul de Manaus)
confirmou ontem um surto epidêmico de rotavírus no município. São 254 casos com 11 mortes
de crianças -todas com menos
de 5 anos de idade.
Seis das crianças mortas eram
indígenas da etnia culina. Elas
morreram praticamente sem assistência médica por causa do difícil acesso às aldeias, só possível
após seis horas de barco.
Vinte e duas pessoas continuavam internadas no único hospital
da cidade, com 22 leitos. A Susam
(Secretaria da Saúde do Estado do
Amazonas) enviou ao município
uma equipe de especialistas da
Fundação de Medicina Tropical
para investigar a origem do surto,
além de medicamentos.
Presente na natureza, o rotavírus é transmitido pela via fecal-oral, de pessoa para pessoa. Os
sintomas são vômito, mal-estar,
febre e diarréia severa, causando
desidratação e morte.
A Folha procurou o Ministério
da Saúde e o Instituto Evandro
Chagas, laboratório referência em
rotavírus na Amazônia, localizado no Pará, mas ambos os órgãos
não haviam sido notificados sobre os casos. Há suspeitas da
doença nas cidades de Guajará
(AM) e Cruzeiro do Sul (AC).
O município de Ipixuna tem
17.258 habitantes, sendo 698 indígenas da etnia culina. A primeira
morte por rotavírus foi registrada
em 25 de agosto, na aldeia Piau,
segundo a Secretaria da Saúde.
Um bebê culina morreu em menos de 24 horas após o surgimento dos sintomas como febre alta,
vômitos, diarréia e desidratação.
"O caso do bebê culina foi fulminante, a criança adoeceu de
manhã e à noite já estava morta
com quadro de diarréia aguda",
disse o secretário da Saúde de Ipixuna, Maurício Carlos Lima, 47.
No total morreram quatro
crianças na aldeia Piau. "Houve
uma morte na aldeias Penedo e
outra na aldeia Sossego, somando
seis crianças indígenas culinas",
disse por telefone da aldeia Piau a
missionária Edite de Oliveira Culina Américo, da etnia culina.
Segundo a Secretaria da Saúde
de Ipixuna, as cinco mortes de
crianças brancas foram registradas nos seringais de Ituxi e Japurá
e na comunidade Porto Alegre.
Ontem o secretário Maurício Lima fez um apelo ao Exército para
que envie apoio de helicóptero
para ajudar no resgate de doentes
na zona rural do município.
Na cidade faltam gasolina e barcos potentes para atravessar os
igarapés de águas baixas do Juruá
e fazer trajetos de até 12 horas para chegar em determinadas áreas.
Alerta vizinho
Em Cruzeiro do Sul (690 km de
Rio Branco), dois bebês morreram depois que curandeiras pediram para que as mães suspendessem a medicação dada no Hospital Geral da cidade.
Ontem estavam hospitalizadas
no Hospital Geral de Cruzeiro do
Sul 18 crianças. Neste mês, o hospital já atendeu 24 crianças de
Guajará, também com suspeitas
de rotavírus. A cidade amazonense está distante da acreana apenas
60 km. Guajará fica a 1.476 km em
linha reta de Manaus.
Em Cruzeiro do Sul foram registrados 394 casos suspeitos, sendo
95% em crianças. Segundo o diretor do hospital, Maurício Queiroz,
as confirmações dependem de resultados de exames no Laboratório Central de Rio Branco.
O especialista em rotavírus Alexandre Linhares, do Instituto
Evandro Chagas, de Belém (PA),
afirmou que o vírus se multiplica
no intestino e, como há grande
concentração de contaminados, a
transmissão é facilmente disseminada. Ele avaliou como grave a
existência do surto de rotavírus
em Ipixuna e as suspeitas em Cruzeiro do Sul e Guajará.
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