São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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SISTEMA CARCERÁRIO

Cinco detentos foram mortos em rebelião no interior paulista; reféns foram amarrados em grades

Presos são torturados e degolados em motim

RODRIGO ROSSI
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,00 EM ITATIBA

Após serem torturados, cinco presos foram mortos, sendo dois deles decapitados, durante rebelião na cadeia pública de Itatiba (SP). Outros dois ficaram gravemente feridos. O motim começou por volta das 21h30 de anteontem e só foi contido 14 horas depois.
De acordo com o delegado seccional de Itatiba (84 km ao norte de São Paulo), Joaquim Dias Alves, a briga que originou o motim começou em uma das cinco celas da cadeia. Os presos se rebelaram e arrombaram as celas ganhando acesso ao pátio interno e à cozinha da unidade. No momento do motim, um carcereiro e um escrivão estavam na delegacia, que tem capacidade para abrigar 24 presos, mas mantinha 112.
Armados de facas e estiletes, produzidos a partir de barras de ferro das celas, os amotinados passaram a ameaçar os companheiros. Os reféns foram amarrados nas grades e torturados.
Cinco presos foram mortos pelos amotinados -dois deles tiveram a cabeça degolada a golpes de facão. O clima tenso e as mortes ocorreram na madrugada e foram acompanhados pelos moradores de casas vizinhas à delegacia.
"Foi um horror. Ouvíamos os gritos à noite toda. Ninguém aqui dormiu. Apenas trancamos toda a casa e ficamos ouvindo os gritos e rezando", disse uma moradora, que não quis ter o nome revelado.
Outros dois presos foram mantidos reféns, amarrados nas grades de uma das celas. Um deles teve o dedo de uma das mãos cortado. Eles ficaram detidos até a chegada da juíza-corregedora Érica Fernandes. Segundo ela, responsável por intermediar as negociações, não havia uma reivindicação objetiva por parte dos rebelados. "Eles estavam bastante nervosos e queriam a garantia de que a tropa de choque da Polícia Militar não invadiria a cadeia", disse.
Familiares de presos se aglomeraram perto da cadeia atrás de notícias. Uma mãe disse ter viajado na madrugada, de Guarulhos (SP), para tratar da transferência do filho. "Venho aqui para tratar da transferência dele e dou de cara com uma rebelião. Preciso ter notícias. Saber se está bem, para onde vão levá-lo."
Uma guarda municipal foi incumbida pela direção da cadeia para enviar notícias, por meio de bilhetes, entre os parentes e os detentos que já haviam se rendido.
Após o final da rebelião, os presos foram colocados no pátio da unidade, que ficou totalmente destruída, para serem identificados e aguardar a definição de locais aptos para a transferência.


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