São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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JUSTIÇA
Debate avalia justiça social e emprego
Desemprego e crime não têm relação direta

Marcio Pochmann, da Unicamp, especialista em desemprego Luís Antônio Francisco de Souza, do Núcleo de Estudos da Violência Flavia Piovesan, professora de direitos humanos da PUC-SP da Reportagem Local

O desemprego não tem relação direta com o aumento da violência nas cidades. Essa foi a principal conclusão a que chegaram os participantes do debate "Justiça Social e Desemprego", promovido pela Folha e pelo Centro Acadêmico 11 de Agosto e realizado no auditório da Folha no último dia 19.
Participaram do debate o procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antonio Marrey; o professor da Unicamp Marcio Pochmann; Luís Antônio Francisco de Souza, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo); e Flavia Piovesan, professora de direito constitucional e de direitos humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O debate foi mediado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha.
A exclusão social gerada pelo desemprego, a falta de equipamentos públicos suficientes para tirar o jovem das ruas, as dificuldades de acesso à Justiça, a sensação de impunidade, e o não atendimento de direitos sociais por parte do Estado foram citados como fatores que contribuem para o crime pelos debatedores.
Pochmann abriu o debate e fez um panorama do desemprego no Brasil de hoje. Especialista no assunto, ele disse que o país vive a mais grave crise de emprego de sua história.
Flavia Piovesan enfatizou que o direito ao trabalho é um direito humano. "Temos que superar a convicção de que direitos sociais não são direitos."
Para Luís Antônio Francisco de Souza, do Núcleo de Estudos da Violência, as pesquisas sobre o assunto ainda são poucas. Ele diz que a violência cresce mais que o desemprego. "Temos que desbaratar essa concepção de que há uma relação direta entre desemprego e violência."
Marrey, ao analisar a questão, citou pesquisa feita com presos da Casa de Detenção, no Carandiru (zona norte de São Paulo), que demonstrou que apenas 27% dos detentos estavam desempregados quando praticaram seus crimes.
Para Flavia e Marrey, a educação para a cidadania é fundamental para diminuir a exclusão social. E a redução dos efeitos desta última depende muito mais da efetivação das leis existentes do que da criação de novas.



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