São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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VIOLÊNCIA
Entre 96 e 99, assassinatos na região de Santos saltam de 494 para 799; Guarujá lidera como a cidade mais violenta
Homicídios aumentam 62% no litoral sul

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Policial faz ronda na praia do Balneário Gaivota, em Itanhaém, cidade que registrou 54,66 homicídios por 100 mil habitantes em 99


MARILENE FELINTO
ENVIADA ESPECIAL AO LITORAL SUL

A região de Santos, que engloba nove municípios do litoral sul, teve um aumento de 61,7% no número de homicídios em apenas três anos, de 96 a 99, segundo a Fundação Seade.
É sob o impacto de estatísticas como essa que a Polícia Militar de São Paulo prepara a Operação Verão para o litoral sul do Estado, onde o grau de violência dos crimes é cada vez maior.
Segundo a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), houve no ano passado 799 homicídios na região de Santos (que inclui ainda os municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e São Vicente). Em 96, haviam sido registrados 494.
Embora não divulgue números, a PM admite que crimes violentos como homicídios, latrocínios, sequestros relâmpagos, roubos de automóveis e a residências estão perto de destronar o crime de furto simples, o mais comum até quatro anos atrás.

Mudança
Segundo o coronel Alberto Silveira, comandante do CPI6 (Comando de Policiamento do Interior), responsável por todo o litoral sul, as estatísticas mostram que não há um acréscimo assustador na quantidade de crimes, mas que mudou a qualidade.
"O que nos preocupa é a violência em si, aquela agressividade gratuita, quando o criminoso saca de uma arma e mata sem motivo ou necessidade. Na semana passada, uma menina foi morta aqui na Praia Grande numa circunstância dessas, por um bala perdida", conta Silveira.
Os números da Fundação Seade mostram que o coeficiente de mortes por homicídio em cinco das principais cidades do litoral sul é bem mais alto do que a média do Estado em 99, de 44,18 mortes por 100 mil habitantes.
O coeficiente do Guarujá é mais do que o dobro disso, 91,29 mortes por 100 mil habitantes. Em seguida vêm Praia Grande (69,57), São Vicente (63,88), Cubatão (56,66) e Itanhaém (54,66).
Os dados revelam que a situação do Guarujá (235.501 habitantes em 1999) e de Itanhaém (65.856) também é preocupante quando comparada com a de Santos, cidade bem mais populosa (409.923 habitantes em 99) e com baixo coeficiente de mortes, 39,28 por 100 mil habitantes.

População flutuante
O coronel Silveira alega, no entanto, que as estatísticas precisam levar em conta a população flutuante de veranistas, que faz triplicar ou mesmo quadruplicar o número de pessoas na região durante a temporada.
A "Operação Verão", que começa em 26 de dezembro e termina em 5 de março, deve mobilizar 1.300 homens da PM para reforço no patrulhamento do litoral sul. A região engloba 23 cidades, de Bertioga a Barra do Turvo.
Eles vão se juntar aos 3 mil que hoje atuam nessas cidades da região. Segundo o coronel Alberto Silveira, do comando da PM em Santos, os efetivos virão da Rota, da Cavalaria e da Rocam. Três helicópteros de São Paulo também vão ajudar nas operações de policiamento e salvamento.
Para a região de Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, novas viaturas -11 da PM e 18 da Polícia Civil- vão reforçar a atual frota escassa.
A previsão é de que 170 homens da PM se juntem ao atual contingente de 320 para as três cidades.
A Polícia Civil quer aumentar seu efetivo incentivando soldados do interior que estejam em férias a passar a temporada no litoral, "trabalhando e aproveitando um pouco a praia, já que eles ganham pouco e não podem se dar a esse luxo", diz Pedro dos Anjos, delegado seccional de Itanhaém.

Vendem-se casas
Para tentar combater a criminalidade no Balneário Gaivota, um dos mais violentos de Itanhaém, os próprios moradores e veranistas ajudaram a PM a instalar uma base comunitária no local.
"Aqui já foi calmo", diz a dona-de-casa Vanda Ribeiro Coutinho, da Associação dos Moradores do Jardim das Palmeiras, que vive há seis anos no Gaivota.
"Agora os caras não estão mais arrombando a casa para entrar, eles estão entrando armados, com a pessoa lá dentro, roubam tudo e ainda fazem todo tipo de violência. Outro dia balearam o braço de um amigo meu num assalto no meio da rua. No verão passado, metralharam a viatura a polícia aí nos matos. Os policiais saíram correndo a pé", afirma.
O comerciante aposentado Wilson Galle, 64, conta que já não sai mais de casa depois da 19h. O dono da padaria que Galle frequenta no Gaivota foi assassinado há quatro meses num roubo a sua residência. Há dois meses, foi a vez de o dono da lanchonete, no mesmo quarteirão, ser sequestrado.
Manoel Martins, corretor de imóveis no balneário, afirma que o número de imóveis colocados à venda em todo o município de Itanhaém aumentou em 100% só no primeiro semestre deste ano.
"O que tem de veranista pondo a casa para vender aqui não é brincadeira", confirma o dono de uma empresa de segurança da região, que prefere não se identificar. Ele diz que aumentou em 70% a procura por serviços de segurança particular este ano em Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.


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