São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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FARMÁCIA
As grandes redes de lojas paulistas são as mais prejudicadas; os assaltos são estímulos para sonegação de imposto
Quadrilhas roubam R$ 1,9 mi em remédios

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quadrilhas de assaltantes levaram de um ano para cá R$ 1,9 milhão em medicamentos das grandes redes paulistas de farmácia. É uma estimativa em mãos da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), entidade das maiores empresas varejistas do setor.
"Se existe roubo é porque também existe alguém que, na outra ponta, compra produto roubado", diz Sérgio Mena Barreto, presidente executivo da associação.
Ele diz acreditar que as quadrilhas vendam esses remédios a intermediários, que por sua vez os repassam a farmácias menores.
Elas nem sempre conhecem a origem criminosa da mercadoria, comprada sem nota fiscal e revendida ao cliente sem o recolhimento de qualquer imposto.
A estimativa sobre o volume de medicamentos obtido por meio de assaltos está em trabalho encomendado pela Abrafarma ao Provar (Programa de Administração de Varejo), grupo de auditores ligados à Faculdade de Economia e Administração da USP.
Rosália Raia, do grupo Droga Raia (90 lojas), diz que sua rede já sofreu este ano 20 assaltos praticados por ladrões apenas interessados em levar remédios.
Nelson Guimarães de Paula, da rede Drogão (42 lojas), não revela quantas vezes assaltantes irromperam em sua empresa. Mas diz acreditar que essa forma de banditismo cresceu na proporção do declínio, de três anos para cá, no roubo de caminhões que distribuem a mercadoria.
A Drogaria São Paulo (151 lojas) foi assaltada só duas vezes este ano. Marcos Guimarães, responsável pela rede, disse que, para obter esse resultado, teve de instalar nas lojas sistema de TV para gravar a movimentação de pessoas pelas gôndolas.
Assessores do secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, dizem que a polícia está disposta a trabalhar com os lojistas, desde que haja um plano parecido ao que permitiu a queda no número de assaltos a bancos.
Um indício de que sonegação fiscal e roubo andam juntos aparece em estudo da Secretaria da Fazenda. As quatro maiores cadeias varejistas paulistas foram responsáveis, entre janeiro e setembro do ano passado, por 22,5% do faturamento. Mas pagaram 81% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) arrecadado.
Mas isso não significa que a sonegação seja a diferença entre essas duas porcentagens. Levantamento da Secretaria da Fazenda, feito há três anos, mostra que são microempresas, e por isso isentas de impostos, 8.292 (ou 57%) das farmácias do Estado.
Na categoria imediatamente superior estão as farmácias com faturamento mensal entre R$ 8 mil e R$ 100 mil. Elas pagam 2,5% sobre o que faturam. É portanto compreensível que a maior carga tributária recaia sobre as grandes redes, que recolhem a alíquota de 18% sobre os remédios vendidos.
A Abecefarma (Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico), que tem o pequeno varejo entre seus associados, acha que a lei em vigor permite maior justiça fiscal. A Abrafarma, entidade das redes, discorda. Ela recentemente ganhou em primeira instância ação contra o governo do Estado em que reivindica a mesma porcentagem de tributos para todos.



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