São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Vítima teria sido enrolada em fios e recebido choque elétrico; outros detentos são suspeitos do crime

Preso é eletrocutado em sua própria cela

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em vez do uso de estiletes, como na maioria das mortes violentas de detentos, fios enrolados no corpo e uma descarga elétrica fatal. Foi assim que o preso Adriano Santana Nunes de Oliveira, 22, foi morto anteontem à noite, eletrocutado na sua própria cela, no Centro de Detenção Provisória do Belém (zona leste de São Paulo).
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, Oliveira foi eletrocutado pelos outros presos de sua cela, que ficava no raio 1 do CDP. Agentes penitenciários, segundo a secretaria, teriam ouvido barulho e encontraram o preso com fios enrolados no corpo.
Esse é o terceiro episódio singular este ano envolvendo morte de presos no complexo. Nos anteriores, os detentos eram mais conhecidos. Em abril, o preso Dionizio de Aquino Severo -que fugiu de helicóptero da penitenciária de Guarulhos, em janeiro- foi morto a estiletadas por outros presos no parlatório do CDP.
Em janeiro, Fernando Dutra Pinto, sequestrador da filha do apresentador de TV Silvio Santos, morreu devido à tortura, supostamente praticada por agentes, e falta de atendimento. A morte de Dutra Pinto provocou a troca da direção do CDP.
A secretaria abriu sindicância para investigar a morte de Oliveira. Os presos envolvidos foram separados e serão ouvidos durante a semana. A secretaria não soube informar o motivo da morte.
A sindicância vai apurar, por exemplo, como os presos teriam conseguido os fios para enrolar no corpo da vítima. Na cela, os detentos podem ter conectado os fios na iluminação ou na tomada na qual os presos ligam eletrodomésticos, segundo a secretaria.
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) deve estar pronto em 30 dias. A equipe médica do PS do Tatuapé informou à mãe da vítima, a doméstica Edinalva José de Santana, 48, que Oliveira morreu em decorrência de uma parada cardíaca, provavelmente provocada por uma descarga elétrica.
Segundo Edinalva, seu filho estava com a cabeça enfaixada no pronto-socorro. A secretaria não soube informar se Oliveira sofreu outras agressões antes de ser eletrocutado na cela. "Eu não vou deixar passar em branco, não. Quero saber como meu filho foi morto", afirmou a doméstica.
Segundo ela, Oliveira era réu primário, trabalhava como marceneiro e estava no CDP do Belém havia cinco meses à espera de julgamento, acusado de co-autoria em um crime de homicídio.
Edinalva disse que seu filho pode ter sido morto por outros presos e aponta a superlotação como uma possível causa de uma desavença entre os detentos. "Meu filho ficava na cela com mais cerca de 12 presos. Eles sempre reclamavam da lotação", disse. A secretaria não soube informar quantos presos estavam na cela.
O caso foi comunicado ao 81º DP (Belém), mas o Boletim de Ocorrência feito pelos funcionários do CDP não traz nenhuma informação sobre preso eletrocutado, mas sobre um detento que sofreu "mal súbito" e que morreu no pronto-socorro, segundo a Secretaria da Segurança Pública.


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