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São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2003

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Disputa deve reduzir água para Grande SP

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Represa Pedro Beicht, do sistema Alto Cotia (Grande SP), que operava ontem com apenas 8,2% de sua capacidade máxima



MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Metade da Grande São Paulo depende da água do sistema Cantareira. Cerca de 4 milhões de moradores da região de Campinas também. Como não há volume para atender as duas demandas, a disputa deve terminar, em 2004, com uma redução, ao menos a médio prazo, do que é mandado para a capital e cidades vizinhas.
Se depender dos comitês Estadual e Federal das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí e do consórcio intermunicipal das bacias dos mesmos rios, a Grande São Paulo deixará de receber até 10 mil l/s de água do Cantareira em 2004 ou nos próximos dez anos. A redução significará deixar de abastecer por volta de um terço dos 9 milhões de pessoas que consomem a água do sistema.
Pela concessão em vigor, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) manda 31 mil l/s do Cantareira para a Grande São Paulo, mas a licença vence em agosto de 2004, e representantes da região de Campinas se articulam para alterá-la.
"Queremos negociar algo mais justo. Imaginamos que podemos receber cerca de 11 mil l/s", diz Sebastião Vainer Bosquilia, integrante do comitê do Piracicaba. Hoje o Cantareira manda para o interior uma média de 3.000 litros por segundo -embora o bombeamento atinja até 5.000 l/s.
Essa água é usada principalmente na irrigação e na indústria, além de ser importante em estiagens como a que a região vive hoje, pois dilui esgotos domésticos lançados nos rios aproveitados para o abastecimento (só 24% do esgoto da bacia é tratado).
Como o Comitê da Bacia do Alto Tietê (responsável pelos mananciais da Grande São Paulo) ainda não tem proposta para enfrentar a do Piracicaba, é a secretaria estadual dos recursos hídricos que sai em defesa da região metropolitana -principal fonte de lucro da Sabesp.
"O assunto [da outorga] tem de ser tratado sem muita emoção, de forma técnica. Por isso criamos um grupo de trabalho e temos um monitoramento on-line das vazões que vão para o interior", afirma o titular da pasta, Mauro Arce.
Embora admita que a menor retirada de água do Cantareira para a Grande São Paulo é uma questão de tempo, ele quer ampliar o prazo para fazer a mudança.
"O uso prioritário da água é para abastecimento, não para irrigação e indústria. Além disso, a região de Campinas precisa tratar o esgoto, deixar de poluir os rios. E ninguém deve achar que o Cantareira vai resolver o problema do interior porque ele dá uma pequena contribuição na produção total da bacia do Piracicaba", disse.
Caberá à ANA (Agência Nacional de Águas) definir os novos termos da outorga porque o rio Jaguari -principal formador da bacia do Piracicaba e, ao mesmo tempo, da primeira das seis represas do sistema Cantareira- é federal (nasce em MG e corta SP).
A disputa pela água é consequência de uma urbanização sem planejamento que o interior parece copiar da capital, dizem ambientalistas. Em ambos os casos, a crise é um resultado esperado.


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