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VÔO 1907
Investigação inclui até a comida dos pilotos
Comissão canadense avalia condições psicológicas e fisiológicas dos aviadores
A leitura e a transcrição das caixas-pretas do Boeing e do Legacy, no Canadá, foram bem-sucedidas, segundo coronel que está no país
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A OTTAWA
A investigação dos motivos
que levaram à colisão no ar do
jato Legacy e do Boeing da Gol
analisa até aspectos psicológicos e fisiológicos (como quantas horas dormiram e o que comeram ou beberam) dos pilotos envolvidos no acidente.
Detalhes da condução do
processo foram revelados com
exclusividade à Folha pelos coronéis Rufino Antônio da Silva
Ferreira, presidente da comissão de investigação, e Mounir
Rahman, coordenador do grupo de trabalho, na sede da TSB
(Transportation Safety Board),
em Ottawa. O instituto, embora ligado ao governo canadense, é independente e foi escolhido para fazer a transcrição
das caixas-pretas por ser um
dos mais bem equipados do
mundo e por ter orientado a
montagem de um laboratório
de análise de acidentes aéreos
no Brasil. O Canadá ainda é sede da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil, na
sigla em inglês), que regula e
uniformiza regras da aviação
comercial no mundo e que tem
183 membros, "uma espécie de
ONU", no dizer de Ferreira.
A investigação da CIAA (Comissão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos), montada pela Força Aérea Brasileira
especificamente para o caso da
Gol, tem três frentes.
1) A do fator material, coordenada por Rahman. Analisa as
aeronaves e seus componentes.
É daí que sairá a resposta se o
transponder estava ou não ligado no Legacy e por que o TCAS,
o sistema anticolisão, não alertou a aproximação dos dois
aviões. Sem o transponder, que
transmite dados como altitude
e velocidade do vôo para o controle em solo e outros aparelhos, o sistema anticolisão não
consegue avisar o mesmo aparelho em outra aeronave.
2) A do fator humano. Subdividida em aspectos psicológicos e fisiológicos, investiga se
houve erro dos pilotos e que
motivos contribuíram para isso. Os americanos Joe Lepore e
Jean Paul Palladino, do jato,
passaram por testes físicos no
Rio, segundo Ferreira. A vida
pregressa dos pilotos da Gol
também é analisada. É apurado, por exemplo, se tinham sono e alimentação regulares, bebiam ou se atravessavam problemas pessoais. É de responsabilidade de dois militares
identificados só como "major
Flávia" e "coronel Flávio".
3) A do fator operacional. Esse aspecto analisa "a relação do
homem com a máquina", diz
Ferreira. Aí entram tráfego aéreo, licenças, habilitação para
pilotar os modelos envolvidos
no acidente, infra-estrutura
dos aeroportos. É coordenada
pelo "coronel Magno".
A leitura e transcrição das
caixas-pretas do Boeing e do
Legacy foram bem-sucedidas,
de acordo com Ferreira. A
preocupação da equipe brasileira era que não houvesse registros do vôo 1907. Houve casos de a caixa-preta ter parado
de funcionar anteriormente e
não conseguir gravar dados do
acidente. A do Boeing tem arquivos das últimas duas horas.
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