São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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VÔO 1907

Investigação inclui até a comida dos pilotos

Comissão canadense avalia condições psicológicas e fisiológicas dos aviadores

A leitura e a transcrição das caixas-pretas do Boeing e do Legacy, no Canadá, foram bem-sucedidas, segundo coronel que está no país

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A OTTAWA

A investigação dos motivos que levaram à colisão no ar do jato Legacy e do Boeing da Gol analisa até aspectos psicológicos e fisiológicos (como quantas horas dormiram e o que comeram ou beberam) dos pilotos envolvidos no acidente.
Detalhes da condução do processo foram revelados com exclusividade à Folha pelos coronéis Rufino Antônio da Silva Ferreira, presidente da comissão de investigação, e Mounir Rahman, coordenador do grupo de trabalho, na sede da TSB (Transportation Safety Board), em Ottawa. O instituto, embora ligado ao governo canadense, é independente e foi escolhido para fazer a transcrição das caixas-pretas por ser um dos mais bem equipados do mundo e por ter orientado a montagem de um laboratório de análise de acidentes aéreos no Brasil. O Canadá ainda é sede da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil, na sigla em inglês), que regula e uniformiza regras da aviação comercial no mundo e que tem 183 membros, "uma espécie de ONU", no dizer de Ferreira.
A investigação da CIAA (Comissão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos), montada pela Força Aérea Brasileira especificamente para o caso da Gol, tem três frentes.
1) A do fator material, coordenada por Rahman. Analisa as aeronaves e seus componentes. É daí que sairá a resposta se o transponder estava ou não ligado no Legacy e por que o TCAS, o sistema anticolisão, não alertou a aproximação dos dois aviões. Sem o transponder, que transmite dados como altitude e velocidade do vôo para o controle em solo e outros aparelhos, o sistema anticolisão não consegue avisar o mesmo aparelho em outra aeronave.
2) A do fator humano. Subdividida em aspectos psicológicos e fisiológicos, investiga se houve erro dos pilotos e que motivos contribuíram para isso. Os americanos Joe Lepore e Jean Paul Palladino, do jato, passaram por testes físicos no Rio, segundo Ferreira. A vida pregressa dos pilotos da Gol também é analisada. É apurado, por exemplo, se tinham sono e alimentação regulares, bebiam ou se atravessavam problemas pessoais. É de responsabilidade de dois militares identificados só como "major Flávia" e "coronel Flávio".
3) A do fator operacional. Esse aspecto analisa "a relação do homem com a máquina", diz Ferreira. Aí entram tráfego aéreo, licenças, habilitação para pilotar os modelos envolvidos no acidente, infra-estrutura dos aeroportos. É coordenada pelo "coronel Magno".
A leitura e transcrição das caixas-pretas do Boeing e do Legacy foram bem-sucedidas, de acordo com Ferreira. A preocupação da equipe brasileira era que não houvesse registros do vôo 1907. Houve casos de a caixa-preta ter parado de funcionar anteriormente e não conseguir gravar dados do acidente. A do Boeing tem arquivos das últimas duas horas.


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