São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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CRIME NO BROOKLIN

Participação da estudante na noite do dia 30 foi esclarecida ontem, durante a reconstituição da ação

Para polícia, Suzane não viu assassinatos

GILMAR PENTEADO
DAGUITO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a polícia, a estudante Suzane Louise von Richthofen, 19, não participou diretamente do assassinato de seus pais nem esteve na cena no crime momentos depois. A participação dela na morte foi esclarecida ontem, durante a reconstituição do assassinato.
Enquanto seus pais eram mortos a pancadas no quarto, que fica no primeiro andar do sobrado, por Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 19, namorado de Suzane, e Cristian, 26, irmão de Daniel, a estudante caminhava entre a sala e a biblioteca, que ficam no térreo da casa, localizada no Brooklin (zona sul de SP). Na biblioteca, ela desarrumou papéis e livros para forjar um assalto.
A reconstituição do crime durou 11 horas. Suzane, Daniel e Cristian, que confessaram participação no duplo homicídio, foram xingados com ofensas e gritos de "assassinos" por cerca de 50 pessoas na chegada na casa dos Richthofen, às 9h50 de ontem. Andreas, outro filho do casal assassinado, esteve no local, mas não participou do trabalho da perícia.
"Não há dúvidas sobre o papel de cada um no crime", afirmou Jane Mariza Belucci, chefe do setor de perícia do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que coordenou a reconstituição.
Segundo ela, Suzane abriu a casa, viu que os pais estavam dormindo no quarto, que fica no primeiro andar do sobrado, ligou uma luz do corredor para que os irmãos vissem as vítimas e foi para o térreo da casa.
A participação de Suzane na morte dos pais era a principal dúvida da polícia antes da reconstituição. Foi cogitada a hipótese, não confirmada ontem, de que a estudante teria participado das agressões ou entrado no quarto para ajudar Daniel e Cristian a modificar a cena do crime.
Os dois irmãos negaram a entrada de Suzane no quarto nos depoimentos e na reconstituição. Ela teria dado luvas cirúrgicas e meias-calças -usadas para evitar a queda de pêlos no local- para os dois na entrada da casa. Também providenciou sacos de lixo, deixados na escada e apanhados por Cristian.
Outra dúvida foi resolvida por Daniel. Foi ele, orientado por Suzane, que pegou o revólver 38 de um compartimento secreto do closet do quarto. Cristian colocou as balas na arma e a deixou ao lado do corpo de Richthofen.
Segundo a perita do DHPP, os acusados disseram que tentaram forjar um assalto. Chegaram a deixar marcas de pés na parede do quarto do casal para induzir a polícia a acreditar que a casa tinha sido arrombada. De acordo com Jane, um deles chegou a pular da janela do sobrado para tornar essa versão mais verossímil.

Versões
A polícia fez três reconstituições, contando a versão de cada acusado. Cristian foi o primeiro. A participação dele durou quatro horas -das 11h30 às 15h30. Disse disse que o primeiro golpe contra o casal foi dado por Daniel, que agrediu Manfred.
Em seguida, Cristian atingiu Marísia com um golpe. Ele afirmou que teve a impressão de que ela teria se mexido, mas não soube dizer se teria acordado. Para garantir que estivesse morta, procurou asfixiá-la com uma toalha. Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), ela teve um dos ossos do pescoço e outros das mãos quebrados.
Cristian contou que, após o casal ser morto, ele e Daniel pegaram toalhas no banheiro -uma delas foi posta sobre o rosto de Manfred.
Das 16h às 18h, foi a vez de Suzane mostrar o que aconteceu. Ela contou à polícia que ajudou na farsa da biblioteca, revirada pelos três para simular um assalto. Foi de lá que eles levaram cerca de US$ 5.000 e R$ 8.000.
A garota disse que sabia o código de uma maleta do pai onde estava o dinheiro, mas contou que eles simularam um arrombamento com uma faca.
Daniel começou a atuar na reconstituição às 18h10. Por volta das 19h, ele interrompeu a operação e disse que estava passando mal. Alegou que o policial que estava deitado na cama na reconstituição era parecido com Richthofen. Minutos depois, continuou a encenação.
A polícia pediu ontem a prorrogação, por mais dez dias, da prisão temporária dos três acusados. Segundo o promotor Virgílio Ferraz do Amaral, eles serão denunciados por duplo homicídio qualificado e roubo qualificado.


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