São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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SEGURANÇA

Escuta nos telefones descoberta em delegacia de São José dos Campos pode ser a primeira que o órgão sofre no país

Polícia Federal teve linhas grampeadas

KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
MARCELO CLARET
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

A Polícia Federal de São José dos Campos foi vítima de uma de suas armas de investigação. A delegacia da PF teve as linhas telefônicas grampeadas, possivelmente, por algum grupo criminoso interessado em antecipar ações da polícia.
Essa pode ser a primeira vez que uma delegacia da Polícia Federal é grampeada no país. A própria corporação admite nunca ter recebido informações de escutas em telefones de delegacias para monitorar a ação dos policiais.
A organização é um dos principais serviços de inteligência do país na investigação de crimes.
O caso, no entanto, não provocou nenhuma ação da PF, que informou que já são realizadas ações periódicas de rastreamentos nas linhas, o que evitaria que a segurança fosse posta em risco.
Embora a PF de Brasília tenha afirmado que há linhas seguras, nas quais a instalação de escutas seria impossível, o grampo telefônico em São José foi percebido só anteontem. A suspeita de que as ligações da polícia eram monitoradas já durava duas semanas.
O delegado da unidade, Marcus Vinícius Deneno, disse que a suspeita surgiu com as oscilações de tensão nas linhas telefônicas, percebidas por meio de um equipamento que aponta grampos.
As escutas foram detectadas anteontem, numa análise de peritos do Setor de Criminalística da PF de São Paulo, após solicitação de averiguação. A delegacia tem mais de dez linhas telefônicas. O número exato não foi divulgado.
A estratégia pode estar sendo utilizada por quadrilhas ligadas ao narcotráfico, roubo de cargas ou à "máfia do combustível", segundo o delegado.
"Isso prova que estamos atrapalhando o trabalho de alguém [crime organizado] na região. O grampo só vai nos levar a um outro grupo que, fatalmente, acabará preso", disse o delegado.
O grampo nas linhas chegou a frustrar duas operações de combate ao tráfico de drogas no Vale do Paraíba, segundo o delegado.
Com os telefones grampeados, os policiais foram obrigados a utilizar celulares particulares durante as investigações para impedir que os trabalhos investigativos fossem descobertos.
A prisão anteontem de José Benedito Pereira, o Dito, suspeito de comandar uma quadrilha interestadual de roubo de cargas, e de outras 28 pessoas do grupo, foi realizada após contatos com outras delegacias da PF, feitos somente por meio de celulares. "Foi o jeito que encontramos para evitar que alguém acompanhasse as investigações", afirmou Deneno.
Segundo o delegado, os três peritos da criminalística da PF devem emitir um laudo, na próxima semana, que apontará em que área da cidade as escutas foram instaladas. O delegado disse que as inspeções no sistema telefônico da unidade serão intensificadas e que deverão ocorrer mais de uma vez por mês.


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