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MORTE PELA NATUREZA
Instalação de usinas de álcool e açúcar na bacia do rio Paraguai, onde fica o Pantanal motivou o ato
Ambientalista morre após atear fogo ao própio corpo
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SINOP (MT)
Morreu ontem em Campo
Grande (MS), por volta das 11h30,
o ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, 65, que no
sábado havia ateado fogo ao corpo em meio a um protesto contra
a instalação de usinas de álcool e
açúcar na bacia do rio Paraguai,
onde fica o Pantanal.
O projeto das usinas foi enviado
à Assembléia Legislativa de Mato
Grosso do Sul em agosto pelo governador José Orcírio Miranda
dos Santos, o Zeca do PT.
Franselmo, como Barros era conhecido, teve todo o corpo queimado e morreu na UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) da Santa
Casa de Campo Grande.
Ele estendeu dois colchonetes
em forma de cruz na calçada, ensopou-os com dois galões de gasolina e ateou fogo por volta das
12h de sábado. Teve queimaduras
em 100% do corpo, segundo informou o hospital. O protesto
reunia cerca de 150 pessoas no
centro de Campo Grande.
Ao menos 15 cartas foram deixadas por Franselmo, endereçadas a familiares, a colegas ambientalistas e à imprensa.
Na mensagem à imprensa, o
ambientalista escreveu: "Um terço dos deputados [da Assembléia
é] a favor [do projeto das usinas],
um terço contra e um terço sem
saber o que é. Já que não temos
voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo".
A carta também se refere, como
problemas ambientais, ao projeto
de transposição do rio São Francisco, tocado "no lugar da revitalização", às queimadas na Amazônia e ao contrabando de sementes
de transgênicos na fronteira sul
do país.
Em outra carta, ele disse: "Foi
difícil tomar essa decisão de sã
consciência. A minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa
da natureza. É a nossa casa e o
presente maior de Deus. Se ele
deu a vida por nós, eu estou dando a minha vida por ele, defendendo o futuro dos nossos filhos.
[...] Continuem a luta por mim".
A Polícia Civil abriu inquérito
para apurar a morte e ficou com
os originais das cartas. Douglas
Ramos, assessor jurídico da Fuconams (Fundação para Conservação da Natureza de MS), tirou cópias autenticadas.
Presidente da Fuconams, Franselmo ainda indicou em uma das
cartas, segundo Ramos, o diretor
da entidade Jorge Gonda para assumir o cargo em seu lugar.
"A Fuconams, fundada por
Franselmo, foi a primeira ONG
ambiental do Estado e a terceira
criada no país há 30 anos", disse
Ramos. Segundo ele, a primeira
luta foi proibir a instalação de usinas no Pantanal. Em 1982, o governo do Estado proibiu.
Foi justamente a Gonda que
Franselmo, durante o protesto de
sábado, entregou a pasta de couro
marrom que sempre carregava
consigo. Dentro dela estavam as
cartas que escreveu.
"Ele pediu ao Gonda para segurá-la e saiu", contou o presidente
da Ecoa (Ecologia e Ação), Alessandro Menezes.
"De repente, no meio de protesto, vimos aquele fogaréu. Não podíamos pensar que era o Franselmo. Sem saber que era ele, eu ajudei a socorrer o homem que era
um tocha humana. Pegamos extintores. Uma mulher queria jogar um balde de água, eu não deixei. Cortei a roupa dele, todo distorcido. Aí chegou o Corpo de
Bombeiros", relatou Ramos.
"Em seguida, uma das pessoas
apontou que o homem tinha vindo de uma Kombi, e era a de Franselmo", disse Douglas.
Além de atuar como ambientalista, era jornalista e dono da revista regional "Executivo".
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