São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 2005

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VIOLÊNCIA

Ex-interno Cleonder Santos Evangelista ganhou fama após escrever livro

Preso, símbolo da Febem morre de pneumonia

Reprodução
O detento Cleonder Santos Evangelista, 20, em abril de 2004, na Bienal do Livro, em São Paulo, ao lado de Lula, Alckmin e Marta Suplicy


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

De garoto-símbolo da Febem a vítima das péssimas condições do sistema prisional. Assim a família de Cleonder Santos Evangelista, 20, define o último ano da trajetória do ex-interno que escreveu um livro, deu palestras e estudou direito, mas voltou para a cadeia. O jovem que já posou para fotos ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) morreu de pneumonia e insuficiência respiratória anteontem.
Preso desde julho, sob acusação de latrocínio (roubo com a morte da vítima) e coação de testemunha, ele estava no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Araraquara, no interior paulista. Foi internado em um hospital na terça-feira passada. Para a família, Evangelista morreu em decorrência de péssimo tratamento recebido na prisão e de negligência no atendimento.
"Ele tinha rinite alérgica, mas ficou mais de 80 dias fechado em uma cela de castigo, de um metro e meio por um metro e meio, com outros três presos, sem sol e sem visita", afirmou o pai, Francisco Antunes Evangelista, 57. "Nós reclamamos do tratamento e a penitenciária disse que ele estava em trânsito e não havia vaga em outro lugar", afirmou.
No dia 29 de julho, a Folha publicou reportagem sobre o dilema de Evangelista, preso dias antes. Os crimes atribuídos a ele ocorreram no ano passado, em sua cidade natal, Borborema (384 km de SP). Um jovem de 16 anos foi encontrado morto em um matagal da cidade. Evangelista foi acusado de ter assassinado o garoto para roubar sua pistola. Ele negava o crime e afirmava que a polícia não tinha provas.
Na entrevista à Folha, em julho, o jovem disse ser perseguido pelo delegado do caso, o qual ele cita em seu livro "Luz no Fim do Túnel: a História de Sucesso de um Ex-Interno da Febem". A orelha do livro é assinada pelo secretário estadual da Educação, Gabriel Chalita.
Evangelista deixou a Febem em 2003, depois de duas internações por tráfico de drogas e tentativa de homicídio. Ganhou uma bolsa para estudar direito e o convite para escrever um livro, no qual ele citaria os primeiros nomes de vários comparsas de crimes, funcionários da Febem e policiais.
Ele virou o exemplo de sucesso da Febem. Dava entrevistas, fazia palestras em escolas. Em abril do ano passado, ele viveu seu melhor momento. Durante a Bienal do Livro, em São Paulo, durante o lançamento de seu livro, ele posou para fotos ao lado de Lula, do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), e da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT).
Ele estava com a mulher e o filho -hoje com um ano e sete meses- na casa de um amigo na Grande São Paulo quando foi surpreendido pelos policiais com o mandado de prisão. A polícia indiciou cinco jovens pelo mesmo crime, mas só Evangelista foi denunciado pelo Ministério Público e teve a prisão decretada.
Depois de preso, Evangelista permaneceu em Franco da Rocha até o dia 24 de junho, quando foi transferido para a penitenciária em Araraquara. Foi nessa unidade que a família diz que o jovem ficou fechado, sem direito a sol. "Ele só foi transferido depois que denunciamos o caso à Justiça. Ele não foi condenado, não poderia ficar em uma penitenciária, ainda mais numa cela de castigo", disse o advogado da família, Ribamar de Souza Batista.
Evangelista foi transferido para o CDP, no mesmo complexo. "Mas a saúde já estava comprometida", disse a mulher dele, Josiane Belo da Silva, 20. Segundo ela, uma pessoa não identificada ligou para a casa da família no último dia 5 dizendo que Evangelista passava mal.
"Naquele sábado, o presídio disse que ele tinha ido para a enfermaria, mas estava tudo bem. Na segunda, disseram que ele já tinha voltado para a cela. Só descobrimos na quarta que ele tinha sido internado no dia anterior, em coma, porque o pai dele tentou visitá-lo", disse Josiane.
A assessoria da Secretaria da Administração Penitenciária disse que Evangelista ficou na cela de castigo porque não havia vaga. Mas disse que ele apresentava boas condições de saúde depois de ser transferido para o CDP, em setembro. Segundo a secretaria, ele recebeu tratamento adequado e foi levado ao hospital quando começou a passar mal.


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