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Fiscal da Receita critica anistia a filantrópica
Para Assunta Di Dea Bergamasco, presidente da associação dos auditores, anistia compromete pagamento de aposentados
Para não prejudicar INSS, diz Bergamasco, dinheiro perdido com isenções deveria ser reposto por outras áreas do governo
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Para os fiscais da Receita Federal, o governo errou ao conceder anistia às entidades que
corriam o risco de perder o título de filantropia em razão de
supostas irregularidades. São
eles que verificam se as filantrópicas cumprem os requisitos que lhes isentam de certos
tributos para evitar sonegação.
"É um absurdo, uma injustiça com aquelas entidades filantrópicas que seguem a legislação rigorosamente e com o bom
contribuinte, que paga todos os
seus impostos", afirma Assunta
Di Dea Bergamasco, presidente
da Anfip (Associação Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil).
Um dos tributos que as entidades filantrópicas estão isentas de pagar é a cota patronal
devida ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Para
Bergamasco, a anistia compromete o pagamento dos aposentados e pensionistas do INSS.
FOLHA - O que a sra. pensa da anistia dada às entidades filantrópicas?
ASSUNTA DI DEA BERGAMASCO - Nós
[fiscais da Receita] sempre tivemos muita restrição a qualquer tipo de isenção que fosse
dada sem o estrito cumprimento da lei. Essa medida provisória [que dá a anistia] é um absurdo, uma injustiça com aquelas entidades filantrópicas que
seguem a legislação rigorosamente, com o bom contribuinte, que paga todos os seus impostos, e com a Previdência,
que vai ter prejuízo.
FOLHA - As isenções dadas às filantrópicas são necessárias, não são?
BERGAMASCO - As isenções se
justificam. Quando o Estado
não consegue fazer tudo aquilo
que deveria fazer [em saúde,
educação e assistência social] e
uma entidade privada atua
[nessas áreas], é justo que ela
tenha algum benefício. Muitas
cumprem rigorosamente os requisitos. Mas existem outras
que tentam burlar a lei e obter
vantagens. Às vezes, você vê
grandes organizações que se
dedicam à saúde, mas cobram
pelo serviço e não dão nada em
troca à sociedade. As prestações de contas são maquiadas.
O Estado não pode conceder
isenções sem fazer o devido julgamento das entidades, como
está acontecendo agora.
FOLHA - Qual seria a solução?
BERGAMASCO - Se o governo
quer dar anistia a quem está devendo, que dê, mas usando o orçamento das outras áreas e
transferindo o dinheiro para a
Previdência. Com a isenção das
filantrópicas, a Previdência
deixa de arrecadar 20% sobre a
folha de pagamento [das entidades]. Se a entidade é uma escola ou um hospital, é justo que
o governo retire esse dinheiro
do Ministério da Educação ou
da Saúde e o transfira para
quem está suportando o prejuízo. É a Previdência que responde pelo pagamento de 24 milhões de aposentados e pensionistas. Não é justo que o trabalhador pague sempre a conta. O
governo vive dizendo que a
Previdência tem déficit, mas dá
essas isenções.
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