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INFÂNCIA
Relatório do Unicef mostra que 21 milhões de menores vivem em famílias com menos de meio mínimo "per capita"
Brasil fica em 105º lugar e se iguala ao Vietnã no ranking de mortes até 5 anos
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
O Brasil vai entrar no ano 2000
com 21,1 milhões de menores de
18 anos vivendo em famílias com
rendimento "per capita" mensal
de até meio salário mínimo
-35% do total nessa faixa etária.
Mais da metade (53%) deles vive
na região Nordeste.
O país conta ainda com 2,9 milhões de crianças de 5 a 14 anos
que trabalham para complementar a renda familiar, o que o Unicef considera "uma violência".
O grande número de crianças
vivendo abaixo da linha pobreza e
a alta concentração de renda no
país foram as principais críticas
feitas ao Brasil pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em seu relatório anual "Situação Mundial da Infância", divulgado ontem em Brasília.
A organização destacou, porém,
quatro conquistas feitas pelo Brasil desde 1990: a queda de seis
pontos percentuais no número de
crianças de 7 a 14 anos fora da escola, a queda dos índices de mortalidade infantil, a erradicação da
poliomielite (em 89) e a aprovação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (em 90).
No relatório de 99, o Brasil subiu uma posição no ranking dos
países com menor índice de mortalidade em menores de 5 anos,
ocupando a 105ª posição.
"Quem mais sofre com a pobreza são as crianças. É a pobreza que
as faz morrerem na primeira semana de vida, que as empurra para o trabalho precoce, que faz fracassarem nos estudos", afirma a
japonesa Reiko Niimi, representante do Unicef no Brasil.
O país foi criticado por não oferecer educação infantil a todos: só
8% das crianças de 0 a 4 anos frequentam creche e só 51% de 4 a 6
anos vão à pré-escola.
"A falta de acesso à educação infantil compromete a capacidade
de aprender da criança. Por isso, é
urgente que o país aumente essa
cobertura", alerta Niimi.
Apesar de elogiar os esforços do
país, Niimi pondera que o Brasil
poderia estar melhor posicionado
no ranking (105º entre 191 países),
uma vez que apresenta índices semelhantes a países muito mais
pobres, como Filipinas, Vietnã e
Cazaquistão.
O Vietnã, por exemplo, tem índice de mortalidade idêntico ao
do Brasil: 42 crianças morrem antes de completar 5 anos para cada
1.000 nascidas vivas. Em 98, morriam 44 para cada 1.000 mo Brasil.
Só que o PNB "per capita" do
Vietnã equivale a 6,47% do brasileiro: US$ 310 contra US$ 4.790.
O relatório do Unicef mostra
que crianças pobres também são
privadas de saneamento básico
-24% da população brasileira vive sem água encanada e 30% sem
esgoto. A falta de água limpa -na
zona rural, 75% das casas não têm
água encanada- comprometeu
os esforços para reduzir a mortalidade infantil (leia abaixo).
Apesar de destacar as quatro
conquistas alcançadas pelo país
em algumas áreas, Niimi fez ressalvas. "Ainda há muito o que fazer para transformarmos a nossa
visão do século 21 em realidade.
Todos os dias, as crianças brasileiras ainda têm seus direitos violados. São vítimas de violências das
mais diversas formas", disse.
O relatório do Unicef critica os
governos dos países em desenvolvimento que investem menos de
20% de seus orçamentos em
ações sociais básicas. De 27 países
pesquisados pelo Unicef, apenas
Belize, Burquina Fasso, Namíbia,
Níger e Uganda cumpriram essa
meta no ano passado. O Brasil
não foi incluído nesse item da
pesquisa.
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, por intermédio de seu porta-voz, Georges Lamazière, que não teve acesso ao relatório apresentado ontem, mas considera "que os objetivos do Unicef são os mesmos do
governo brasileiro, que tem lutado muito para resolver os problemas" das desigualdades sociais
entre crianças.
"O presidente gostaria também
que esses avanços ocorressem
mais depressa, mas é claro que
eles são problemas difíceis de
combater, pois não vêm de agora", afirmou Lamazière. "Para isso é preciso determinação e é o
que vem acontecendo, apresentando melhoras pouco a pouco."
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