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EPIDEMIA DE VIOLÊNCIA
Foram 5.705 casos na capital em 1999, um aumento de 9% em relação ao ano anterior
Homicídio bate recorde em São Paulo e é a causa de morte que mais cresce
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
Com 5.705 casos em 1999, o homicídio foi a causa de morte que
mais cresceu em São Paulo no ano
passado em termos absolutos. A
cidade registrou 448 assassinatos
a mais do que o seu recorde anterior: 5.257 em 1998.
O aumento de 9% é muito superior ao crescimento populacional
do município, de cerca de 0,4% ao
ano. Pior: em 1998 os homicídios
já haviam crescido 9% em relação
a 1997. Tudo isso indica que a cidade está sofrendo uma epidemia
de violência.
Do lado positivo, a mortalidade
por Aids continua em queda. Foram 181 mortes a menos do que
em 1998, o que representa uma diminuição de 12%.
O resultado é ainda melhor se
comparado ao de 1995, quando a
doença atingiu seu ponto mais letal: foram 2.961 mortes por Aids
naquele ano, contra 1.368 agora
-uma queda de 54%, graças,
principalmente, à difusão do coquetel de drogas.
Essas são algumas das principais conclusões do balanço das
mortes na capital no ano passado,
concluído ontem pelo Pro-Aim
(Programa de Aprimoramento
das Informações de Mortalidade,
da prefeitura paulistana).
Além disso, também se destaca
um aumento de 11% no número
de mortes por diabetes, de 2.025
para 2.248 casos. Há duas causas
possíveis: maior correção no
preenchimento dos dados pelos
médicos no atestado de óbito e/
ou envelhecimento da população.
"No caso de diabetes, é um problema que tem solução. É uma
doença que se manifesta muito
antes de provocar a morte. Se
houvesse um controle adequado,
muitas dessas mortes poderiam
ser evitadas", diz o médico Marcos Drumond, um dos coordenadores do Pro-Aim.
O envelhecimento da população é uma das razões que mais
bem explicam o aumento das
mortes por doenças crônicas entre os paulistanos em 1999. Drumond cita os óbitos por infarto,
derrame e hipertensão arterial.
Nos três casos, o crescimento foi
de 3% em comparação a 1998.
"A população vai entrando em
faixas etárias nas quais o risco de
morte é maior", afirma. É o que
explica o fato de a Suécia, cuja população é muito mais idosa, ter
uma taxa de mortalidade que é o
dobro da do Brasil.
Quanto ao aumento de 9% das
doenças obstrutivas, como enfisema, bronquite e asma, o médico
diz que é preciso investigar os
motivos, mas diz que as mortes
podem estar relacionadas à poluição atmosférica e ao fumo.
Do lado bom, houve uma diminuição de 5% das mortes por
pneumonia. Foram 148 mortes a
menos do que no ano anterior.
Drumond levanta uma hipótese
para explicar essa evolução: a vacinação de idosos contra a gripe
no ano passado.
Outros aspectos positivos identificados pelo balanço do Pro-Aim foram a queda de 3% das
mortes por câncer de estômago e
de mama (principal causa de
morte entre mulheres de classe
média na cidade).
A queda das mortes por Aids,
no trânsito e por pneumonia indica que quando a sociedade encara
os seus problemas é possível minimizar as consequências. "E isso
se aplica a qualquer causa de morte", diz Drumond.
Não é o que está ocorrendo, por
exemplo, com as mortes provocadas por hipertensão arterial e derrame. O problema se repete no caso da violência. "Mais uma vez a
gente assiste a um crescimento
dos homicídios, e, de novo, semprojeto global para enfrentá-lo."
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