São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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EPIDEMIA DE VIOLÊNCIA
Foram 5.705 casos na capital em 1999, um aumento de 9% em relação ao ano anterior
Homicídio bate recorde em São Paulo e é a causa de morte que mais cresce

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Com 5.705 casos em 1999, o homicídio foi a causa de morte que mais cresceu em São Paulo no ano passado em termos absolutos. A cidade registrou 448 assassinatos a mais do que o seu recorde anterior: 5.257 em 1998.
O aumento de 9% é muito superior ao crescimento populacional do município, de cerca de 0,4% ao ano. Pior: em 1998 os homicídios já haviam crescido 9% em relação a 1997. Tudo isso indica que a cidade está sofrendo uma epidemia de violência.
Do lado positivo, a mortalidade por Aids continua em queda. Foram 181 mortes a menos do que em 1998, o que representa uma diminuição de 12%.
O resultado é ainda melhor se comparado ao de 1995, quando a doença atingiu seu ponto mais letal: foram 2.961 mortes por Aids naquele ano, contra 1.368 agora -uma queda de 54%, graças, principalmente, à difusão do coquetel de drogas.
Essas são algumas das principais conclusões do balanço das mortes na capital no ano passado, concluído ontem pelo Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade, da prefeitura paulistana).
Além disso, também se destaca um aumento de 11% no número de mortes por diabetes, de 2.025 para 2.248 casos. Há duas causas possíveis: maior correção no preenchimento dos dados pelos médicos no atestado de óbito e/ ou envelhecimento da população.
"No caso de diabetes, é um problema que tem solução. É uma doença que se manifesta muito antes de provocar a morte. Se houvesse um controle adequado, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas", diz o médico Marcos Drumond, um dos coordenadores do Pro-Aim.
O envelhecimento da população é uma das razões que mais bem explicam o aumento das mortes por doenças crônicas entre os paulistanos em 1999. Drumond cita os óbitos por infarto, derrame e hipertensão arterial. Nos três casos, o crescimento foi de 3% em comparação a 1998.
"A população vai entrando em faixas etárias nas quais o risco de morte é maior", afirma. É o que explica o fato de a Suécia, cuja população é muito mais idosa, ter uma taxa de mortalidade que é o dobro da do Brasil.
Quanto ao aumento de 9% das doenças obstrutivas, como enfisema, bronquite e asma, o médico diz que é preciso investigar os motivos, mas diz que as mortes podem estar relacionadas à poluição atmosférica e ao fumo.
Do lado bom, houve uma diminuição de 5% das mortes por pneumonia. Foram 148 mortes a menos do que no ano anterior. Drumond levanta uma hipótese para explicar essa evolução: a vacinação de idosos contra a gripe no ano passado.
Outros aspectos positivos identificados pelo balanço do Pro-Aim foram a queda de 3% das mortes por câncer de estômago e de mama (principal causa de morte entre mulheres de classe média na cidade).
A queda das mortes por Aids, no trânsito e por pneumonia indica que quando a sociedade encara os seus problemas é possível minimizar as consequências. "E isso se aplica a qualquer causa de morte", diz Drumond.
Não é o que está ocorrendo, por exemplo, com as mortes provocadas por hipertensão arterial e derrame. O problema se repete no caso da violência. "Mais uma vez a gente assiste a um crescimento dos homicídios, e, de novo, semprojeto global para enfrentá-lo."


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