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CONSUMO
CONVÊNIOS
Operadoras não prestam contas nem são obrigadas a ter uma reserva técnica para garantir o que prometem
Usuário desconhece "saúde" de empresas
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O universo dos planos de saúde
já não é mais uma terra sem lei,
mas permanece uma selva cheia
de armadilhas. Mesmo amparado
numa legislação feita supostamente para protegê-lo, o consumidor acaba escolhendo um plano sem saber o mais importante:
como está a "saúde" financeira e
administrativa da empresa que
deve cuidar da sua saúde.
Depois que a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) liquidou duas operadoras -a Unicor e a Adress-, a pergunta que
se faz é quantas mais vão quebrar
pelo caminho. São 2.773 empresas registradas na ANS, oferecendo 43 mil produtos diferentes.
Ninguém sabe como anda o caixa
da grande maioria delas.
"Até agora os órgãos de defesa
do consumidor se preocuparam
com a proteção contratual, o que
as empresas cobriam e não cobriam", diz Luiz Tavares, vice-presidente da Fenaseg (Federação
Nacional das Seguradoras). "Deixaram de lado o mais importante:
saber se a operadora tem condições financeiras para oferecer o
que está prometendo."
Segundo Tavares, nem a agência vinha se preocupando com isso. Tanto é que só agora está baixando uma resolução exigindo a
publicação de balanço no "Diário
Oficial" da União e em jornal de
grande circulação. E só agora a
ANS começa a estudar a exigência
de uma reserva técnica que possa
garantir os contratos assinados,
uma prática antiga e rigorosa entre as empresas seguradoras.
A própria agência prevê que
muitas operadoras de planos de
saúde vão resistir a essa exigência.
Não faltam antecedentes de desobediência: a ANS exige que as empresas registradas enviem trimestralmente um cadastro de clientes. Um quarto delas (638) nunca
enviou essa listagem, mesmo sob
ameaça de punição.
A agência já expediu cobranças
num total de R$ 5,5 milhões em
repasses ao SUS, correspondentes
a serviços prestados pela rede pública a segurados dos planos. Só
R$ 1,5 milhão foi pago.
De julho a dezembro passado (a
agência foi constituída em abril de
2000), técnicos da ANS realizaram 4.463 fiscalizações, fizeram
2.062 autuações e aplicaram 71
multas. Ocorreram duas liquidações. Várias outras empresas estão sendo monitoradas, informa a
assessoria da agência.
"Com certeza há outras instituições quebradas", diz o vice-presidente da Fenaseg. O mais grave é
que o consumidor só saberá disso
quando de fato elas quebrarem,
pois ainda não há mecanismos
que garantam a transparência financeira das empresas.
"Além da reserva técnica, que é
o mínimo, o que se deveria exigir
de imediato são auditorias externas que possam checar a saúde financeira das empresas", diz Luiz
Tavares. Cabe à agência estabelecer os mecanismos de controle e
exigir que as empresas cumpram
as regras estabelecidas.
Ao consumidor, cabe pressionar pelos seus direitos, diz Karina
Rodrigues, advogada do Idec
(Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor). "Publicar balanço
é importante, mas a ANS deve
também disponibilizar informações ao público leigo", afirma.
Do contrário, o consumidor poderá ser surpreendido com a notícia de que o plano que contratou
para cuidar de sua saúde está gravemente enfermo.
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