São Paulo, quinta, 15 de janeiro de 1998.



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DISCRIMINAÇÃO
Condômino pede demissão de funcionário negro
Porteiro de condomínio carioca acusa engenheiro de racismo

da Sucursal do Rio

O porteiro José Carlos Marins Nascimento, 32, funcionário de um condomínio na Barra da Tijuca (zona sul do Rio), acusou ontem de racismo o engenheiro chileno Daniel Rodrigues Ortiz, morador do edifício. O caso foi registrado como injúria qualificada por racismo na 16ª DP (Delegacia Policial), na Barra.
Ortiz é aluno do curso de mestrado em engenharia oceânica da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele foi procurado em casa e na universidade e não foi encontrado.
O porteiro disse que a confusão começou em setembro de 97, quando o engenheiro chegou ao condomínio Summer Coast durante um temporal e encontrou os portões fechados. Segundo o porteiro, Ortiz se dirigiu à guarita, reclamou porque os portões estavam fechados e o agrediu verbalmente.
"Ele disse que a minha raça não valia nada, que pretos e judeus não tinham nem que existir."
O síndico do condomínio, Carlos Eduardo Schaefer, disse que, no dia 31 de dezembro, Ortiz o procurou e, usando argumentos racistas, pediu que o porteiro fosse demitido. "Ele pediu a demissão do funcionário e me disse que não pagava condomínio para pagar salário de preto", afirmou o síndico.
Schaefer disse que advertiu Ortiz de que racismo é crime no Brasil. Segundo o síndico, o condômino respondeu afirmando que tinha "imunidade diplomática".
Nascimento procurou o Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) e registrou o caso na delegacia.
O secretário-executivo do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), Ivanir dos Santos, disse que levará o caso à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e à Polícia Federal.
O Consulado do Chile no Rio informou que desconhecia o caso e que, até a tarde de ontem, não fora procurado por Ortiz.

Novo caso
Em Botafogo (zona sul), um suposto caso de racismo no prédio onde mora a atriz Vera Gimenez terminou em confusão e foi parar na delegacia.
O técnico negro Joel Jacob da Silva chegou ao prédio para consertar o ar-condicionado do apartamento da atriz. A síndica Sueli Guirelli impediu que ele entrasse pela portaria social.
A atriz achou que Silva estava sendo discriminado por ser negro e discutiu com a síndica. "Em nenhum momento se disse que era porque ele era negro, mas, claramente, houve racismo."
A atriz e a síndica trocaram ofensas verbais. A filha da atriz, a modelo Luciana Gimenez, entrou na discussão e trocou tapas com a síndica. Vera e a filha registraram queixa contra a síndica por injúria e lesões corporais. A síndica negou as acusações de discriminação. Ela também registrou queixa de lesão corporal contra Luciana Gimenez.



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