São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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AIDS
Ministério negocia com laboratórios queda no preço de remédios do coquetel e ameaça iniciar fabricação no país

Governo pode quebrar patente de remédio

LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro ameaça quebrar, até a metade deste ano, a patente de dois medicamentos que fazem parte do coquetel de tratamento da Aids. O Ministério da Saúde espera proposta de redução dos preços dos laboratórios Merck, que produz o Efavirenz, e Roche (fabricante do Nelfinavir) para tomar a decisão.
"Se não chegarmos a um acordo satisfatório, poderemos começar a produção no Brasil", disse ontem o ministro José Serra (Saúde).
Segundo Serra, Merck e Roche mostraram interesse em negociar, mas para evitar a quebra da patente, a redução deverá ser significativa. Dados do ministério mostram que o país reduziu em 70% o gasto com remédios do coquetel feitos no país, enquanto os importados tiveram queda só de 10%.
O coquetel é formado por 12 medicamentos. O Brasil já produz oito deles. Os dois remédios que o ministério ameaça quebrar a patente têm peso expressivo no gasto com tratamento da Aids. Hoje, são investidos US$ 301 milhões ao ano na compra e produção dos medicamentos. Do total, 56% são usados para importar os quatro remédios que o país não produz.
O Efavirenz e o Nelfinavir representam hoje 36% dos gastos -US$ 105 milhões. "Esses dois medicamentos nós usamos em grande quantidade", disse o coordenador de DST e Aids no ministério, Paulo Roberto Teixeira.
O ministério já está investindo em pesquisas sobre esses medicamentos. Se a quebra de patentes for definida, eles poderão ser produzidos no país em pouco tempo.
Segundo Teixeira, os outros dois remédios importados são usados em pequena quantidade e não pesam tanto no custo.

Artigo contestado
Para produzir os medicamentos, o ministério pretende usar artigo da lei de patentes do país que está sendo questionado pelos Estados Unidos na Organização Mundial de Comércio (OMC).
O artigo 68 permite a licença compulsória se o produto é vendido há pelo menos três anos no Brasil, sem que o laboratório tenha pretendido iniciar a produção local. Os EUA alegam que o artigo fere o tratado internacional de patentes, que o Brasil assinou.
O Brasil não concorda e afirma que outros países, como a França, possuem artigos semelhantes.


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