São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

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JUSTIÇA

Ex-segurança Wagno Lúcio da Silva havia sido condenado por latrocínio e teve de enfrentar até rebelião no dia da soltura

Preso sem culpa, homem é solto após 8 anos

Cesar Tropia/"O Tempo"
Wagno Lúcio da Silva, abraçado por seu pai, no momento em que deixava o cárcere, após 8 anos


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Condenado a 23 anos de prisão por latrocínio, o ex-segurança Wagno Lúcio da Silva, 41, foi inocentado ontem por unanimidade por oito desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
E mesmo após oito anos e três meses de prisão injusta, a soltura de Silva foi prejudicada por uma rebelião de detentos. Só às 18h40 Silva foi liberado.
"A gente tira de lá nem quer for pelo muro", dizia à Folha o advogado Dino Miraglia Filho, às 17h, a caminho do presídio com o alvará de soltura. Miraglia Filho entrou no caso em 2003, indicado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que viu na condenação um erro do Judiciário.
O crime em questão foi o assalto e morte de um taxista, em Congonhas (interior de Minas), em 1997. Na época, um jovem menor de idade acusou Silva de participação. Ele trabalhava como segurança num clube e numa pedreira. Segundo o advogado, apesar das inconsistências e contradições nos três depoimentos do garoto, Silva foi condenado. E apenas com base neles.
Na época, a defesa esteve a cargo da Defensoria Pública. A nova defesa provou que o jovem mentiu. Ele era ameaçado pelos dois homens supostamente responsáveis pelo latrocínio. Silva foi escolhido para receber a culpa, diz o advogado, porque certa vez pôs para fora do clube os suspeitos.
Ontem, o relator do processo de revisão criminal, desembargador Eli Lucas de Mendonça, disse que a defesa de Silva conseguiu agora comprovar que "a declaração do co-réu era falsa".
À tarde, enquanto a Justiça preparava a soltura, o presídio em que ele esteve preso nos últimos quatros anos, o Nelson Hungria, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), vivia uma rebelião com dois reféns, agentes penitenciários.
Presos dos pavilhões sete e oito se revoltaram após uma tentativa de fuga. Silva ocupava o pavilhão quatro e já sabia o resultado do julgamento.
Na manhã de ontem, cerca de duas horas antes de o julgamento começar, uma repórter da rádio Itatiaia foi ao presídio e localizou Silva no trabalho de capina. "O pior de tudo é a angústia de ter que aguardar todo dia a verdade aparecer", disse ele.
Quando foi preso, o ex-segurança estava casado, com uma filha de três anos. Por causa da prisão, a mulher o deixou. Silva disse que não guarda "rancor" de ninguém.
Ele lamentou apenas não ter podido acompanhar o crescimento da filha. Sobre processar o Estado pelo erro, disse que deixará isso por conta do seu advogado.


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