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44% iniciam tarde o tratamento para Aids
Especialistas afirmam que quanto mais cedo a doença é diagnosticada, melhor é a qualidade de vida do paciente depois
Para a coordenadora do programa, atraso é fruto de diagnóstico tardio devido ao medo do paciente e acesso difícil à realização de exame
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O tratamento para Aids começou tarde para 50.393 brasileiros entre 2003 e 2006. O número representa 43,7% das
115.441 pessoas que iniciaram
terapias para enfrentar a doença nesse período.
Especialistas afirmam que,
quanto mais cedo a Aids é diagnosticada, melhor é a qualidade
de vida do paciente depois.
Tanto que, dos que contraíram
a doença e iniciaram tratamento tardio, 28,7%, ou 14.462,
morreram no início da terapia.
Esses dados integram o relatório "Resposta Brasileira à
Epidemia de Aids 2005-2007",
do governo federal.
De acordo com o último boletim epidemiológico do ministério, o Brasil tem uma tendência
de queda da incidência de Aids.
Foram 32.628 casos, em 2006,
contra 38.816, em 2002.
A situação do tratamento tardio é mais grave entre homens
e pessoas mais velhas. Segundo
o relatório, na faixa etária entre
15 e 19 anos, a maioria (83,8%)
iniciou o tratamento no momento adequado. Já entre os
que têm mais de 60 anos, a probabilidade é sete vezes maior
de o paciente procurar tarde o
sistema de saúde.
Também segundo os dados
do relatório, cerca de 50% dos
homens com a doença procuram o tratamento tarde. Entre
as mulheres, o índice é de 36%.
De acordo com o documento,
o principal motivo para a diferença é que o teste de HIV faz
parte dos exames pré-natais.
O dado é corroborado pelo
pesquisador Alexandre Grangeiro. Ele estima que só 8% das
pessoas fazem teste anti-HIV
de forma "espontânea"; o restante o faz por associação a outro "evento de saúde" -além
dos pré-natais, doação de sangue e exames médicos.
Os dados variam entre as regiões, reforçando a hipótese de
que o problema é relacionado à
dificuldade de acesso ao diagnóstico. O tratamento tardio é
maior no Norte (53%) e no
Centro-Oeste (47%).
Para o Programa Nacional de
DST e Aids, o tratamento tardio
é fruto do diagnóstico também
demorado, tanto pelo estigma
da doença e pelo medo do paciente como pela dificuldade de
acesso aos exames e pela demora do resultado dos testes.
Pesquisa encomendada pelo
Ministério da Saúde mostra
que 30% dos centros que fazem
diagnóstico, tratamento e prevenção da infecção do HIV possuem falhas que culminam na
desistência do paciente em pegar o resultado do exame ou no
abandono do tratamento.
O sanitarista Mário Scheffer,
do Grupo Pela Vidda/SP, cita,
entre as falhas do sistema, a falta de campanhas que estimulem a realização do exame e a
demora na entrega do resultado (cerca de 15 dias) como os fatores que colaboram para o
diagnóstico tardio.
"Não adianta termos um tratamento de primeiro mundo se
as pessoas não conseguem chegar ao serviço a tempo de se beneficiarem da terapia", diz ele.
Dizendo ser "muito preocupante" o número de tratamentos que começam após o ideal, a
coordenadora do Programa de
DST e Aids, Mariângela Simões, disse que uma das prioridades é aumentar o número de
testes rápidos nos centros de
saúde, que podem diagnosticar
a doença em até meia hora.
"A pessoa tem que se dispor a
fazer o teste, mas o sistema tem
que facilitar o acesso. Ele dificulta quando faz a pessoa ir
uma vez para aplicar o teste e
outra para pegar o resultado."
No relatório, o número de
diagnósticos tardios foi medido
com base no primeiro exame de
contagem de linfócitos T-CD4
(células de defesa do sistema
imunológico que são infectadas
pelo vírus HIV). Foi considerado diagnóstico tardio o resultado de pacientes com marca menor que 200 células/mm3 de T-CD4 (geralmente quando o
portador contraiu o vírus há
pelo menos cinco anos) e com
óbito no início do tratamento.
De 2004 para 2006, o número de aposentadorias pela
doença caiu 28%. Segundo
Grangeiro, a queda é reflexo da
evolução do tratamento, o que
fez com que pessoas com o vírus deixassem de se aposentar.
Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI, da Reportagem
Local
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