São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 1998

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SAÚDE
Diminui incidência de hepatite C

JAIRO BOUER
especial para a Folha

A batalha contra a hepatite C -um dos maiores problemas de saúde pública hoje em todo o mundo- começa a conquistar suas primeiras vitórias.
Pesquisa realizada pelo NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) aponta que a incidência da doença -número de pessoas que adquire a infecção em um ano- está caindo. Hoje, ela é da ordem de 3 por 1 milhão de habitantes. No começo da década de 90, o número era de 15 por 1 milhão.
Hoel Sette Júnior, presidente da Sociedade Paulista de Hepatologia e médico do Hospital Emílio Ribas, diz que o maior controle dos bancos de sangue, as campanhas de informação e as medidas de prevenção adotadas por causa da Aids são fatores que derrubaram as taxas de infecção nos EUA.
Segundo Sette Júnior, no Brasil, ainda não existem dados disponíveis para saber se o país segue a tendência norte-americana.
Apesar da queda na incidência, o número de casos deve dobrar ou triplicar ainda nas duas próximas décadas. Isso acontece porque pessoas que já tinham o vírus vão começar a adoecer ou ter o diagnóstico revelado por meio de um exame de sangue.
O vírus causador da hepatite C (HCV) só foi identificado em 1989 e o teste para sua detecção ficou pronto apenas em 1991. Quem recebeu transfusão de sangue ou doação de órgão antes desse período é grupo de risco para a doença. Quem teve diagnóstico de hepatite não-A e não-B antes da testagem do vírus C também tem altíssimo risco de estar contaminado.
A hepatite C é hoje a principal causa de câncer hepático e de transplante de fígado em todo o mundo -300 milhões de pessoas estão infectadas pelo HCV hoje. A Unaids prevê que, no ano 2000, o HIV (vírus da Aids) deve contaminar 40 milhões de pessoas (7 vezes menos que o HCV).
No Brasil, pesquisa realizada em 97 pela Sociedade Brasileira de Hepatologia, com bancos de sangue e especialistas em fígado de todo país, revelou que 1,23% da população pode ter o vírus (quase 2 milhões de brasileiros).
Para vencer o HCV, pesquisadores e laboratórios têm investido pesado. No começo da década, o uso de interferon -substância que estimula o sistema imunológico- alcançava sucesso (desaparecimento do vírus no sangue e normalização da função hepática) em apenas 23% dos pacientes.
Sette Júnior diz que, alguns anos depois, a associação do interferon com o antiviral ribavirina emplacava quase 50% de sucesso.
Agora, novos estudos apontam que uma nova forma de interferon -que mantém níveis constantes de droga no corpo- pode alcançar sucesso em até 73% dos pacientes.
No Brasil, o hospital Emílio Ribas e a Unicamp vão participar do estudo da nova droga. Trabalhos apontam o sucesso com outra droga: a interleucina 12.



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