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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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VIOLÊNCIA

Vítima de atentado era responsável pela execução das penas de líderes do PCC e de Fernandinho Beira-Mar

Juiz é morto em Presidente Prudente

ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, 47, foi assassinado ontem a tiros, depois de deixar o Fórum de Presidente Prudente (565 km da capital paulista). Ele era responsável pelos principais líderes presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) e pelo traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, ligado ao Comando Vermelho e detido na vizinha Presidente Bernardes (589 km de SP).
O Vectra de Dias foi fechado por um Fiat Uno, por volta das 18h30, no centro da cidade. Da calçada, um homem fez quatro disparos de pistola 9 milímetros.
Dois tiros de pistola atingiram a cabeça, um o tórax e outro o punho direito do juiz. O carro de Dias bateu em uma árvore. O magistrado morreu no local.
Ontem, o desembargador Sergio Augusto Nigro Conceição, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, disse que não descarta a possibilidade de o crime ter relação com a função do juiz, a quem cabia decidir sobre benefícios e pedidos de advogados dos presos da região de Presidente Prudente, incluindo os que estão no CRP (Centro de Reabilitação Penitenciária) de Presidente Bernardes, entre os quais Beira-Mar e parte da cúpula do PCC.
"Não sei se tem relação, mas é um indício que será apurado", afirmou o desembargador. É a primeira vez em 41 anos que um juiz é assassinado desse modo em São Paulo, segundo o TJ.
O Uno branco usado pelos assassinos, com placa de Presidente Prudente, foi abandonado logo depois. Provavelmente, a dupla trocou de carro, o que pode indicar planejamento da ação.
Até as 23h de ontem, a polícia não tinha pistas nem suspeitos presos. Peritos de São Paulo estavam sendo esperados em Presidente Prudente para fazer o retrato falado dos dois suspeitos -um homem branco, outro negro, ambos de estatura mediana- a partir de informações de duas testemunhas do assassinato.
"É um crime bárbaro, inadmissível, tem de ser apurado e punido com todo o rigor. É um absurdo que isso ocorra em um Estado democrático de Direito", disse ontem o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey, depois de designar três promotores para participar da investigação policial.
Desde o ano passado, a polícia tem interceptado planos de atentados contra autoridades que atuaram contra o PCC -policiais, promotores e secretários-, em represália à criação do CRP de Presidente Bernardes.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse ontem, por meio de sua assessoria, que não comentaria o caso.
O magistrado era conhecido como uma pessoa dura em suas sentenças e sério. Recentemente, ele negou pedido de advogados de Beira-Mar, que queriam visitá-lo no CRP antes do final dos dez primeiros dias de isolamento completo imposto aos novos detentos.


Colaborou BETE GÁSPERI, free-lance para a Agência Folha


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