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WALDIR TRONCOSO PERES (1923-2009)
O dom da oratória do príncipe dos advogados
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Verba volant, scripta manent", ouviu Waldir Troncoso
Peres numa das últimas entrevistas que concedeu.
Do latim para o português,
o que a entrevistadora Luiza
Nagib Eluf, procuradora de
Justiça do Ministério Público
do Estado de São Paulo, quis
lhe dizer foi: "A palavra voa, a
escrita permanece".
Considerado por muitos
como o príncipe dos advogados no país, com mais de meio
século dedicado à profissão,
Waldir dizia acreditar que "o
direito se faz da oralidade".
Fácil entender sua posição:
advogado formado pela USP
em 1947, tinha o "dom da oratória". Para a infelicidade de
muitos, como a da procuradora, dizia não gostar de escrever, e não deixou textos.
A entrevista, dada a Luiza
para um estudo sobre crimes
passionais, foi publicada no livro "A Paixão no Banco dos
Réus" (2002). "Quando ele
soube do trabalho, me procurou para a entrevista. Parece
que ele sentiu a necessidade
de deixar um registro."
Para o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos,
que levou o amigo aos alcoólicos anônimos, fazendo-o parar de beber, Waldir foi o
"orador mais brilhante" que
ele ouviu. "Eu brincava com
ele: "O seu problema é que a
gente não sabe se você pensa
antes de falar ou se fala antes
de pensar". E ele ria."
Por achar que os jurados
julgavam com o coração, apelava para o lado emocional em
suas defesas "performáticas".
Trabalhou em casos de repercussão: defendeu o cantor
Lindomar Castilho, que acabou condenado a mais de 12
anos por matar a tiros a mulher num bar em SP, em 1981.
Defendeu ainda o procurador Augusto Carlos Eduardo
da Rocha Monteiro Gallo
-pai da atriz Maitê Proença,
que matou a mulher a facadas
e foi absolvido, nos anos 70-
e o delegado Sérgio Paranhos
Fleury, do Dops, cujo nome
ficou associado ao Esquadrão
da Morte e à tortura.
"Ele me disse: "Não dá, eu
sou das antigas, traição eu
não consigo engolir". Ele defendia esses maridos com
convicção", lembra Luiza.
Domingo, Waldir morreu
aos 85, de insuficiência renal.
Teve três filhos e duas netas.
obituario@grupofolha.com.br
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