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Desigualdade entre negros e brancos caiu em 10 anos, diz estudo
Relatório com base em dados do IBGE aponta redução da diferença quanto a expectativa de vida ao nascer e mortalidade na infância
Para pesquisador, queda foi causada pela prioridade dada pelos governos a populações mais pobres, e não por políticas raciais
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Em dez anos, o Brasil obteve
significativos avanços na redução da desigualdade racial em
dois aspectos fundamentais da
qualidade de vida: a esperança
de vida ao nascer e a mortalidade na infância.
Dados do Relatório Anual da
Desigualdade Racial no Brasil,
que será lançado no mês que
vem pela editora Garamond,
mostram que, de 1995 a 2005, a
diferença na expectativa de vida entre negros e brancos diminuiu de 5,6 anos para 3,2.
No mesmo período, a mortalidade na infância, que era 84%
maior entre negros em 1995,
dez anos depois passou a ser
27% superior.
O estudo considerou como
negros o somatório dos autodeclarados pretos e pardos na
Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios, do IBGE.
O economista Marcelo Paixão, autor do relatório, destaca
que essa redução na desigualdade ocorreu ao mesmo tempo
em que esses indicadores
sociais melhoraram para o
conjunto da população, e
não apenas para um grupo
específico.
"Nem sempre ocorre isso.
Muitas vezes os indicadores de
toda a população melhoram,
mas a distância entre dois grupos aumenta. No caso da mortalidade na infância e na expectativa de vida, que são dois indicadores altamente correlacionados, a melhoria ocorreu com
diminuição da desigualdade",
diz Paixão.
Em 1995, a expectativa de vida era de 71,5 anos para a população branca e de 65,9 para a
negra. Dez anos depois, essas
estimativas aumentaram, respectivamente, para 74,9 e 71,7.
Prioridade
A taxa de mortalidade na infância (que mede as mortes até
cinco anos de idade por mil
crianças nascidas vivas) variou
no mesmo período de 32,9 para
23,1 entre brancos e caiu pela
metade (de 60,6 para 29,4) entre negros.
Outro indicador com significativa redução na distância foi a
taxa de fecundidade. Em 1995,
ela era de 2,2 filhos por mulher
entre brancos e de 3,0 entre negros. Dez anos depois, as taxas
caíram, respectivamente, para
1,9 e 2,3.
Paixão afirma que, no caso
desses indicadores, a redução
da desigualdade não se deveu a
políticas com cortes raciais,
mas, sim, a uma bem-sucedida
prioridade dada pelos governos
às populações mais pobres das
regiões Norte e Nordeste.
"Sou um defensor de políticas com corte racial para combater alguns problemas específicos, mas não todos. No caso
do combate à mortalidade na
infância, tem mesmo que ser
uma política universal que incida principalmente nas áreas
onde o problema é maior. Nesse caso, como a população negra era a mais afetada pelo problema, era normal que a desigualdade caísse se o governo
priorizasse as áreas mais afetadas", afirma ele.
Ainda altas
O economista lembra, no entanto, que as taxas continuam
altas quando comparadas com
as de países desenvolvidos e
que, em outros indicadores, a
diminuição da desigualdade foi
muito tímida ou não ocorreu.
A diferença no rendimento
médio domiciliar per capita,
por exemplo, teve pouca alteração. A dos brancos era 132%
superior à de negros em 1995
e, em 2006, manteve-se 108%
maior.
Ele destaca também que as
diferenças na taxa de analfabetismo adulto continuam grandes. Em 1995, essa taxa era de
9,5% entre brancos e 23,4% entre negros. Em 1996, elas caíram, respectivamente, para
6,5% e 9,5%.
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