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Solidários a colegas, alunos depredam escola
Estudantes do colégio Firmino de Proença, onde estudou o governador Serra, quebraram vidraças e cadeiras após apreensão de amigos
Polícia diz que foi acionada porque os alunos estariam "passando drogas" no banheiro da escola; nada foi encontrado com eles
LAURA CAPRIGLIONE
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um tumulto envolvendo
PMs e alunos da Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença, na Mooca (zona
leste de SP), terminou ontem
com dois adolescentes na delegacia, 47 vidraças, 25 cadeiras,
27 mesas, quatro lixeiras e um
banco quebrados.
A escola tem em seu rol de
ex-alunos o governador José
Serra (PSDB). Já foi considerada uma das melhores de São
Paulo -era famosa pelo forte
ensino de ciências exatas. Nela,
estudam 1.780 alunos- 700 deles no turno da manhã.
A onda de violência começou
pouco depois das 10h30, quando os alunos Bruno, 16, e Ricardo (nomes fictícios), 14, saíram
da escola escoltados por dois
soldados da PM. Foi o vice-diretor, Renato Santo Trevelato
Júnior, 38, quem chamou os
policiais para retirá-los.
Os jovens saíram chorando,
resultado do gás de pimenta
lançado pelos policiais (segundo a PM, o gás foi usado porque
os dois se recusaram a sair do
local). As lágrimas e os olhos
vermelhos, testemunhados por
colegas, geraram a rebelião.
Meninos e meninas da 8ª série do ensino fundamental ao
3º ano do ensino médio, acreditando que os amigos tinham sido espancados pelos PMs, começaram a depredação. Conseguiram suspender as aulas.
O episódio lembrou a rebelião estudantil que, há seis meses, destruiu a Escola Estadual
Amadeu Amaral. Ambos os colégios situam-se na zona leste,
são tradicionais representantes do ensino público (o Amadeu completou 100 anos; o Firmino é de 1946).
O vice-diretor Trevelato disse na delegacia que chamou a
ronda escolar para retirar os
dois alunos porque eles estavam proibidos de entrar no
prédio "fora do período regular
de aulas". Bruno é aluno do 1º
ano do ensino médio noturno e
Ricardo, da 7ª série da tarde.
Os dois dizem que estavam
na escola para usar um dos 30
computadores ligados na internet. Afirmam que foram abordados pelo vice-diretor quando
estavam no banheiro e que pretendiam voltar para a sala de
informática ou ir para a quadra,
assistir à aula de educação física das meninas.
O subcomandante do 45º Batalhão da PM, Daniel Ignácio,
disse que a polícia foi chamada
porque os alunos estariam
"passando drogas" no banheiro
da escola. Mas, apesar de os
dois terem sido surpreendidos,
não foi encontrada qualquer
substância ilegal com eles.
No 8º Distrito Policial, do
Brás/Belém, para onde os rapazes foram encaminhados, o vice-diretor da Firmino de
Proença recusou-se a dar entrevista à Folha. Em vez disso,
fez sinal à polícia para que afastasse a reportagem de si.
Adolescentes que se aglomeravam na porta da escola ontem no início da tarde acusavam Trevelato de xingá-los e de
ofender seus familiares. "Ele
fala que o lugar das meninas é
na esquina, quando alguma vai
sem uniforme; puxa as orelhas
dos meninos", diziam.
A Secretaria da Educação
não calculou o prejuízo causado pelo tumulto. Além dos dois
alunos que foram para a delegacia e liberados ontem mesmo, outros três foram identificados como participantes da
confusão. As aulas devem ser
retomadas hoje.
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