São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Solidários a colegas, alunos depredam escola

Estudantes do colégio Firmino de Proença, onde estudou o governador Serra, quebraram vidraças e cadeiras após apreensão de amigos

Polícia diz que foi acionada porque os alunos estariam "passando drogas" no banheiro da escola; nada foi encontrado com eles


LAURA CAPRIGLIONE
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um tumulto envolvendo PMs e alunos da Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença, na Mooca (zona leste de SP), terminou ontem com dois adolescentes na delegacia, 47 vidraças, 25 cadeiras, 27 mesas, quatro lixeiras e um banco quebrados.
A escola tem em seu rol de ex-alunos o governador José Serra (PSDB). Já foi considerada uma das melhores de São Paulo -era famosa pelo forte ensino de ciências exatas. Nela, estudam 1.780 alunos- 700 deles no turno da manhã.
A onda de violência começou pouco depois das 10h30, quando os alunos Bruno, 16, e Ricardo (nomes fictícios), 14, saíram da escola escoltados por dois soldados da PM. Foi o vice-diretor, Renato Santo Trevelato Júnior, 38, quem chamou os policiais para retirá-los.
Os jovens saíram chorando, resultado do gás de pimenta lançado pelos policiais (segundo a PM, o gás foi usado porque os dois se recusaram a sair do local). As lágrimas e os olhos vermelhos, testemunhados por colegas, geraram a rebelião.
Meninos e meninas da 8ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, acreditando que os amigos tinham sido espancados pelos PMs, começaram a depredação. Conseguiram suspender as aulas.
O episódio lembrou a rebelião estudantil que, há seis meses, destruiu a Escola Estadual Amadeu Amaral. Ambos os colégios situam-se na zona leste, são tradicionais representantes do ensino público (o Amadeu completou 100 anos; o Firmino é de 1946).
O vice-diretor Trevelato disse na delegacia que chamou a ronda escolar para retirar os dois alunos porque eles estavam proibidos de entrar no prédio "fora do período regular de aulas". Bruno é aluno do 1º ano do ensino médio noturno e Ricardo, da 7ª série da tarde.
Os dois dizem que estavam na escola para usar um dos 30 computadores ligados na internet. Afirmam que foram abordados pelo vice-diretor quando estavam no banheiro e que pretendiam voltar para a sala de informática ou ir para a quadra, assistir à aula de educação física das meninas.
O subcomandante do 45º Batalhão da PM, Daniel Ignácio, disse que a polícia foi chamada porque os alunos estariam "passando drogas" no banheiro da escola. Mas, apesar de os dois terem sido surpreendidos, não foi encontrada qualquer substância ilegal com eles.
No 8º Distrito Policial, do Brás/Belém, para onde os rapazes foram encaminhados, o vice-diretor da Firmino de Proença recusou-se a dar entrevista à Folha. Em vez disso, fez sinal à polícia para que afastasse a reportagem de si.
Adolescentes que se aglomeravam na porta da escola ontem no início da tarde acusavam Trevelato de xingá-los e de ofender seus familiares. "Ele fala que o lugar das meninas é na esquina, quando alguma vai sem uniforme; puxa as orelhas dos meninos", diziam.
A Secretaria da Educação não calculou o prejuízo causado pelo tumulto. Além dos dois alunos que foram para a delegacia e liberados ontem mesmo, outros três foram identificados como participantes da confusão. As aulas devem ser retomadas hoje.


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