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AMBIENTE
Poço que serve a condomínio próximo a depósito de combustível da Shell tem substâncias tóxicas acima do tolerável
Vila de SP tem água contaminada, diz laudo
RENATO ESSENFELDER
DA REPORTAGEM LOCAL
O Centro de Vigilância Sanitária
de São Paulo confirmou ontem
oficialmente a existência de contaminação por pesticidas e solventes fora da área da Shell na Vila Carioca (zona sul de São Paulo).
O órgão analisou amostras de
água coletadas em quatro poços
vizinhos à unidade de armazenamento de combustíveis da Shell.
Em dois deles foi constatada a
presença de dieldrin (tipo de pesticida) e tetracloroeteno (solvente
utilizado para a limpeza de reservatórios de combustível) acima
do limite tolerado pela Vigilância.
No único poço direcionado ao
consumo humano dentre os analisados (o do condomínio Auri
Verde), o nível de dieldrin chegou
a 0,327 micrograma do pesticida
por litro de água, quando o limite
seria de 0,03 micrograma.
No caso do tetracloroeteno, o limite foi extrapolado em 50%: havia 62 microgramas do solvente
por litro de água, quando o tolerado seriam 40 microgramas.
Segunda análise
A Cetesb (agência ambiental do
Estado) divulgou também ontem
um estudo paralelo ao da Vigilância, realizado em seis poços (dois
iguais aos selecionados pela Vigilância e quatro dentro da área da
Shell, chamados de poços de monitoramento de contaminação).
Os resultados foram similares.
De acordo com o laudo da Cetesb,
o poço da Auri Verde possui 0,28
micrograma de dieldrin e 63,8 de
tetracloroeteno.
O diretor da Vigilância Sanitária
na capital, Rui Dammenhain, preferiu não detalhar que tipo de moléstias poderiam ser causadas pela
exposição aos tóxicos. "Há muitas
variáveis para o desenvolvimento
de doenças, como o tempo de exposição [aos produtos" e a quantidade ingerida. Pode causar desde
uma alteração gastrointestinal até
câncer", afirmou o diretor.
A base da Shell na Vila Carioca
existe desde 1951 e é a causa do
que pode ser a maior contaminação ambiental da cidade. Uma
área de pelo menos 180 mil m2 (o
equivalente a 25 campos de futebol) foi contaminada com derivados de petróleo (benzeno, xileno,
etilbenzeno, tolueno), pesticidas e
metais pesados, como o chumbo.
A contaminação aconteceu nas
décadas de 70 e 80, quando se enterravam no chão as borras resultantes da lavagem dos tanques.
A empresa já havia reconhecido
a contaminação antes, porém
afirmava que o problema estava
restrito à área da base. No local,
são armazenados 62,7 milhões de
litros de gasolina, álcool e diesel.
Providências
Confirmada a contaminação da
água, a Vigilância Sanitária começará a tomar novas providências a
partir de hoje. O órgão irá determinar que a Shell cadastre todos
os moradores das ruas Colorado,
Xingu e do condomínio Auri Verde até o final deste mês.
O cadastramento será o ponto
de partida para que uma comissão especial de avaliação toxicológica -a ser formada em até 15
dias pela Vigilância- aponte
quais exames médicos devem ser
efetuados em quais moradores.
Os seis moradores presentes
durante a divulgação dos exames
mostraram-se chocados com o
resultado. "Ainda havia uma esperança de que desse negativo",
disse Izabel Vendrame, da associação Reviva a Vila Carioca.
O poço do condomínio estava
fechado havia cerca de 15 anos,
mas foi reaberto no início de 2002.
O local foi utilizado por quatro
meses, e então fechado. No condomínio moram 112 famílias. O
Ministério Público estima que haja 30 mil moradores na vila. Hoje,
deve haver um protesto em frente
à base da multinacional.
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