São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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AMBIENTE

Poço que serve a condomínio próximo a depósito de combustível da Shell tem substâncias tóxicas acima do tolerável

Vila de SP tem água contaminada, diz laudo

RENATO ESSENFELDER
DA REPORTAGEM LOCAL

O Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo confirmou ontem oficialmente a existência de contaminação por pesticidas e solventes fora da área da Shell na Vila Carioca (zona sul de São Paulo).
O órgão analisou amostras de água coletadas em quatro poços vizinhos à unidade de armazenamento de combustíveis da Shell. Em dois deles foi constatada a presença de dieldrin (tipo de pesticida) e tetracloroeteno (solvente utilizado para a limpeza de reservatórios de combustível) acima do limite tolerado pela Vigilância.
No único poço direcionado ao consumo humano dentre os analisados (o do condomínio Auri Verde), o nível de dieldrin chegou a 0,327 micrograma do pesticida por litro de água, quando o limite seria de 0,03 micrograma.
No caso do tetracloroeteno, o limite foi extrapolado em 50%: havia 62 microgramas do solvente por litro de água, quando o tolerado seriam 40 microgramas.

Segunda análise
A Cetesb (agência ambiental do Estado) divulgou também ontem um estudo paralelo ao da Vigilância, realizado em seis poços (dois iguais aos selecionados pela Vigilância e quatro dentro da área da Shell, chamados de poços de monitoramento de contaminação).
Os resultados foram similares. De acordo com o laudo da Cetesb, o poço da Auri Verde possui 0,28 micrograma de dieldrin e 63,8 de tetracloroeteno.
O diretor da Vigilância Sanitária na capital, Rui Dammenhain, preferiu não detalhar que tipo de moléstias poderiam ser causadas pela exposição aos tóxicos. "Há muitas variáveis para o desenvolvimento de doenças, como o tempo de exposição [aos produtos" e a quantidade ingerida. Pode causar desde uma alteração gastrointestinal até câncer", afirmou o diretor.
A base da Shell na Vila Carioca existe desde 1951 e é a causa do que pode ser a maior contaminação ambiental da cidade. Uma área de pelo menos 180 mil m2 (o equivalente a 25 campos de futebol) foi contaminada com derivados de petróleo (benzeno, xileno, etilbenzeno, tolueno), pesticidas e metais pesados, como o chumbo. A contaminação aconteceu nas décadas de 70 e 80, quando se enterravam no chão as borras resultantes da lavagem dos tanques.
A empresa já havia reconhecido a contaminação antes, porém afirmava que o problema estava restrito à área da base. No local, são armazenados 62,7 milhões de litros de gasolina, álcool e diesel.

Providências
Confirmada a contaminação da água, a Vigilância Sanitária começará a tomar novas providências a partir de hoje. O órgão irá determinar que a Shell cadastre todos os moradores das ruas Colorado, Xingu e do condomínio Auri Verde até o final deste mês.
O cadastramento será o ponto de partida para que uma comissão especial de avaliação toxicológica -a ser formada em até 15 dias pela Vigilância- aponte quais exames médicos devem ser efetuados em quais moradores.
Os seis moradores presentes durante a divulgação dos exames mostraram-se chocados com o resultado. "Ainda havia uma esperança de que desse negativo", disse Izabel Vendrame, da associação Reviva a Vila Carioca.
O poço do condomínio estava fechado havia cerca de 15 anos, mas foi reaberto no início de 2002. O local foi utilizado por quatro meses, e então fechado. No condomínio moram 112 famílias. O Ministério Público estima que haja 30 mil moradores na vila. Hoje, deve haver um protesto em frente à base da multinacional.



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