São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO TIM LOPES

Declaração contrasta com decisão do chefe de Polícia Civil, que suspendeu buscas por crer que ossadas são de repórter

Corpo pode não ser encontrado, diz delegado

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O prefeito César Maia (PFL) na Vila Cruzeiro, onde Tim Lopes teria sido capturado por traficantes


SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O corpo do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, pode nunca ser encontrado, caso os traficantes de drogas responsáveis pelo seu desaparecimento, na noite do dia 2 de junho, não queiram.
A afirmação é do delegado Carlos Henrique Pereira Machado, da Delegacia de Homicídios, designado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública para acompanhar as investigações.
"Admito que, apesar de todos os esforços da polícia, ele pode nunca ser encontrado", disse ontem o delegado, após reunião com o subsecretário de Segurança Pública, Ronaldo Rangel.
A declaração vai contra o que vinha sustentando o chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira. Anteontem, ele disse que o exame de DNA das ossadas achadas no cemitério clandestino da favela da Grota (complexo do Alemão, zona norte) provará que uma delas é de Lopes.
Ontem, o chefe de gabinete da Polícia Civil, delegado Pedro Paulo de Pinho, afirmou que a opinião de Machado é respeitada pelo chefe da corporação. "O que ele quis dizer foi que os traficantes podem ter espalhado as partes do corpo por vários lugares."
De acordo com a polícia, o jornalista foi morto depois de capturado por traficantes liderados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, quando fazia reportagem sobre abuso de menores em um baile funk na favela Vila Cruzeiro. Lopes tinha 51 anos.
Convencido de que o corpo já estava localizado, o chefe de Polícia Civil anunciou anteontem a suspensão das buscas.
Para o novo delegado do caso, a situação é outra. Segundo ele, é comum os traficantes espalharem partes dos corpos das vítimas para dificultar a localização. "A verdade é que, se o tráfico não quiser, não vamos achá-lo", disse.

Campanha
O prefeito do Rio, César Maia (PFL), esteve ontem na favela Vila Cruzeiro, participando de ato de campanha da candidata do partido ao governo do Estado do Rio, a deputada estadual Solange Amaral. Gravado pelo comitê de campanha, o ato deverá ser reproduzido em programas de TV da candidata do PFL.
Maia e Solange estiveram na rua onde é realizado o baile funk que seria tema de reportagem do jornalista Tim Lopes. Durante as quase três horas em que o prefeito permaneceu na favela, não houve tiroteios.

Testemunha
A polícia ofereceu a Ângelo Ferreira da Silva, 19, preso anteontem na favela da Grota, e à sua família a inserção no Programa de Proteção à Testemunha, promovido pelo governo estadual.
Silva, que recebeu de Elias Maluco ordem para transportar Tim Lopes ao local onde ele foi morto, no morro da Grota, deu à polícia um depoimento com detalhes sobre o assassinato. Ele teme ser alvo de vingança por parte do grupo do traficante.

Colaboraram MARIO HUGO MONKEN, da Sucursal do Rio, e TALITA FIGUEIREDO, free-lance para a Folha


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Fracassa ação em reduto do tráfico
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.